A vitória da fé: Entre Inclusão e Limites

Na madrugada, como prometido, estávamos lá. A mochila pronta, os pés preparados para o que viesse. Pedro seguiu firme, passo após passo, enquanto eu fazia o que podia para acompanhá-lo.

A noite estava linda. A lua cheia derramava uma claridade mágica sobre o caminho, revelando um céu estrelado e um círculo ao redor da lua que conferia ainda mais encantamento à noite. A estrada se descortinava à nossa frente, iluminada por essa lua. Caminhávamos sob esse cenário quase irreal, embalados pelos cantos e orações dos fiéis que seguiam juntos.

Houve um momento em que o Padre chamou a atenção dos jovens pelas conversas animadas. Estávamos em um momento de contrição, e lá atrás, enquanto lutava contra as subidas, pensei: como é bom ser jovem! Pois, para mim, naquela inclinação, era impossível respirar e rezar ao mesmo tempo – ou respirava, ou falava.

Consegui 11 quilômetros. Rastejando, empurrando os limites da dor, mas consegui. Não cheguei até o final, mas caminhei mais do que imaginava ser possível. Pedro, por outro lado, cruzou a linha de chegada, completando o percurso ao lado de sua madrinha Kelem, que inicialmente não participaria da Peregrinação, mas que conseguiu, de última hora, estar presente.

A peregrinação, para ele, não era apenas uma caminhada – era a reafirmação de que ele podia, de que ele pertencia, de que sua fé e sua força o levavam adiante. Ali, ele não era diferente. Talvez a peregrinação seja um momento que permita às pessoas olharem para dentro e perceberem suas próprias limitações, e quando isso acontece, aprendemos a respeitar as diferenças do outro. É no respeito à diferença que a completude, a fé e a gratidão se manifestam.

Na última parada, precisei tomar uma decisão. Seguir em frente e talvez comprometer minha capacidade de dirigir de volta, ou reconhecer que era hora de parar? Escolhi parar. Fui para o postinho, tomei uma injeção e respirei fundo. Se insisti até onde pude foi porque sabia o quanto isso significava para Pedro. Se parei foi porque também aprendi que o cuidador precisa saber a hora de recuar para continuar sendo suporte.

E nesse processo de inclusão e ajuda, o leque de pessoas a cuidar dele se expandiu. Além da madrinha Kelem, que o acompanhou até o final, Pedro foi entregue em casa pela Elizeth, vizinha da minha irmã. Quando entrou, foi até o quarto e perguntou:

— Mãe, você está bem?

Disse que sim. Ele então se dirigiu ao outro quarto, deitou e dormiu até a hora do almoço.

A caminhada foi uma vitória. Para ele, que chegou ao final. Para mim, que reconheci meus próprios limites sem sentir que falhei. E, no fim das contas, não foi sobre chegar ao destino, mas sobre seguir em frente – juntos.

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Kelem Cristina de Sene Santos
Kelem Cristina de Sene Santos
28 dias atrás

E como é difícil reconhecermos nossos limites sem sentir que estamos falhando. No fim das contas trata-se de reconhecer nossa humanidade e de saber escolher parar ou continuar….