Bênçãos disfarçadas

Bênçãos disfarçadas 

Há dois meses e meio

meu pai faleceu.

Percebo agora o quanto

seu mau humor e agressividade

 foram importantes

nos últimos dias de vida.

Sem o cansaço e,

a sensação de não aguento mais,

vou enlouquecer também!

Como despedir de quem amamos?

A quem nos trouxe ao mundo e,

proporcionou as condições necessárias

para nossa sobrevivência.

Guardo na memória

Um gesto carinhoso

de meu pai.

Foi muito difícil recebê-lo,

pois quando ele levantou a mão

achei que ele ia me bater.

Meu corpo inteiro ficou tenso.

Então, ele acariciou meu rosto.

Um carinho suave e delicado

pois a pele de sua mão estava fininha,

sem nenhuma calosidade.

há uma sabedoria infinita

na agressividade da velhice.

Que nos prepara para a despedida.

Pois, ao passar muito tempo, cuidando,

 podemos perder, ou abrir mão

de alguns projetos de vida.

Necessários na recomposição da existência.

Caso durante a fase do cuidado

Não saibamos tirar um tempo para:

estar com os amigos,

descansar e repor as baterias,

construir sonhos,

projetos e metas.

Que nos permitam,

seguir em frente.

Com alegria no coração

A ação de cuidar do outro,

É pratica, que impregna a alma.

Quando isso acontece,

 o preconceito pode diminuir.

O respeito aflorar.

O amor se espalhar,

como a luz do sol

 nas montanhas, campos e vales.

Nos pequenos gestos de cuidado,

 abraçamos o diferente e as diferenças e,

o céu pode ser, aqui.

18 de novembro de 2024.

Feliz aniversário Pai.

Que você esteja a passear por um

campo florido, a ouvir o canto dos pássaros,

as margens, de um belo riacho.