Uma árvore minimalista

Um longo tempo fiquei a observá-la, enquanto algumas pessoas se posicionavam para tirar uma foto como se ela estivesse em suas mãos. Eu olhava sua grandiosidade ao se destacar no azul do céu. O verde de suas folhas sob o sol parecia ainda mais intenso e seu tronco encrustado na pedra. Nenhuma outra árvore ao seu redor.  Isso sim é viver com pouco, com o essencial.

E, o mais importante: servindo ao próximo, pois em total gratuidade oferece beleza e encantamento ao lugar. Fez de uma pedra sua morada. E vive a saborear a brisa do mar, o calor do sol e a sorrir do espanto dos visitantes ao lhe olharem.

Ao longo dos anos venho aprendendo a ser minimalista. Não posso dizer que sou minimalista, porque ainda não desapeguei do grande número de livros que tenho. Embora já tenha doado muitos.

Outro fator que me levou para o caminho do minimalismo foi meu filho, pois na época em que sua epilepsia estava totalmente sem controle e ele caia, nosso tempo e esforço era para evitar suas quedas. Então cuidar e limpar coisas tornou-se algo sem sentido. Tornei minha casa o mais funcional possível.

Além do meu filho, meus pais já tinham uma certa idade. Logo tapetes eram algo sem sentido. No geral há tapete em minha casa apenas no banheiro.

Mas claro que li sobre minimalismo, assisti vídeos, até entrei num grupo de minimalistas. Entretanto, minha melhor aula sobre minimalismo foi na praia de Tambaba na Paraíba, ao observar essa árvore.

Em sua exuberância ela faz jus aquele ditado: o pouco com Deus é muito. Pois ao olharmos para a pedra, vemos total escassez de recursos para uma planta sobreviver. Certamente ela não teve crise de indecisão para escolher o lugar de fazer sua morada. A pedra mais alta. Sem medo de enfrentar as rajadas de vento e a exposição da sua figura para todos.

Ela é, em total inteireza. E vive da forma mais minimalista possível. Sem pedir mais nada. E o farfalhar de suas folhas ao toque do vento é uma prece de gratidão ao universo, pois em sua pequena existência, ela pode oferecer beleza e alegria, para o poeta compor poesia.

Que a gente possa aprender com ela, que doa beleza, serenidade e alimento.

E nós, o que doamos para os lugares que são nossos lares?

Obs.: “Palmeira é o nome comum da Arecaceae, anteriormente conhecida como Palmae ou Palmaceae, a única família botânica da ordem Arecales. Pertencem a esta família plantas muito conhecidas, como o coqueiro e a tamareira, abrangendo cerca de 205 gêneros e 2.500 espécies”.

4 5 Votos
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
12 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
Ver todos os Comentários
Kelem Cristina de Sene Santos
Kelem Cristina de Sene Santos
1 ano atrás

Que inveja dessa árvore…. brincadeiras à parte, ando precisando começar a praticar esse tal minimalismo na casa, na vida, nos sentimentos…

Fernanda das Neves
1 ano atrás

Fazer o caminho do desapego é importante pois ajuda-nos a percebermos o que é essencial, o que verdadeiramente a nossa alma precisa para não perder o foco. Tudo um dia terá de ser simples como a Beleza, a natureza e o Amor… temos de aprender o desapego pois tudo o que precisamos está na nossa essência… tal como a palmeira! Belo texto Cícera. Grata.

Noscilene
1 ano atrás

Me inspirou a me tornar minimalista tb. Aprecio espaços, andar pela casa sem me esbarrar em mobílias . Assim como vc, Cícera, tenho muitos livros e aí o bicho pega, difícil me desapegar deles rs

Ruth Lifschits
1 ano atrás

Cícera, seu texto é uma lição de vida. Profundo, sábio e instigante. Parabéns! Tenho orgulho de ser sua amiga.

Maria Rejane de Menezes
Maria Rejane de Menezes
1 ano atrás

É possivel sim!!!! Viver bem e com simplicidade.

Flávio Nerva
Flávio Nerva
1 ano atrás

Baita texto e perspectiva para o minimalismo Cícera