Já viajei antes com meu filho, de carro ou de ônibus e sempre que eu sugeria viajarmos de avião ele dizia “tenho medo”. Então comprei as passagens para vir para João Pessoa e comecei a lhe mostrar vídeos sobre os belos lugares que íamos visitar. Se Pedro continuava com dúvida no dia que ele viu o teto da igreja de São Francisco ele se decidiu.
Claro que tomei alguns cuidados, como comprar poltronas na parte da frente, para em caso de alguma turbulência, ou no momento de decolar e aterrissar o impacto dos movimentos serem menores.
Antes do avião decolar suas mãos estavam frias e úmidas e sua ansiedade transbordava por todos os poros. Tentei mantê-lo ocupado ao fazer perguntas sobre eventos religiosos. Acredito que funcionou.
No segundo voo, de São Paulo a João Pessoa, houve um momento de tanta estabilidade que ele ficou incomodado. “Mãe, porque o avião está parado?” Era noite. “Quero chegar logo”.
Chegamos e confesso que tem sido uma grande aventura e aprendizado. O primeiro foi na praia de Tambaba, quando meu filho, por movimentar os braços com frequência, esbarrou em uma mulher e o marido dela ficou uma fera. Pedro olhava assustado sem saber o que estava acontecendo, pedi desculpas.
O homem com arrogância disse “você está doido?” Então eu com uma calma que não sei de onde veio respondi “ele é autista” e fiquei na frente de Pedro encarando o homem. Coisas que só mãe faz…
Essa foi uma experiência bem ruim.
Entretanto, vivenciei uma experiência bem agradável no espaço Centro Cultural de São Francisco. Ao chegar lá me encantei pela fachada e parei para tirar uma foto, Pedro seguiu em frente. Quando entrei na recepção nos informaram que professor pagava metade. Nem eu nem minha amiga estávamos com a carteira. Logo tínhamos que pagar o ingresso completo.
Para minha surpresa essa moça, Clécia, que está na foto com o Pedro disse “não precisa pagar para seu filho, para ele é de graça”.
Num primeiro momento foi só a alegria de não pagar, em seguida veio a pergunta como ela percebeu, fiz todo o circuito da visita querendo saber como? Quando o passeio terminou fui até ela e perguntei.
Como você percebeu que meu filho era diferente? Num primeiro momento ela disse que sabia porque sempre recebem pessoas com deficiência. Mas esta era uma resposta vaga. Então perguntei quais os traços que fizeram ela identificar.
“Foi o jeito dele se movimentar e falar”. Na verdade, ela já estava com medo de eu ter ficado brava e já começava a pedir desculpas. Então, disse que estava encantada pela percepção dela e contei o episódio do dia anterior. Ela sorriu e contou “tenho um parente próximo com deficiência”.
Acredito que todos aqueles que percebem o diferente é por ter um olhar mais gentil e humanizado, outra forma é conviver no dia a dia com o diferente.
Aqui também aprendi uma lição importante. O uso do cordão de identificação é importante, para quando encontrarmos um ser desumanizado, ou que esqueceu as boas maneiras em casa, podermos chamar a polícia na hora.
Melhor ser mãe bafão, para que o direito de inclusão seja respeitado, do que privar a nós e a nossos filhos do direito de ir e vir, em qualquer ambiente.
Pedro adorou esse passeio, tem tudo a ver com seu hiper foco: igreja e imagens de santo. E, as pessoas que trabalham no Centro Cultural São Francisco fazem toda a diferença, pela gentileza.
Bem que a vida poderia ser um espaço entre o nascimento e a morte, em que só vivêssemos episódios de gentileza.
Seria um sonho lindo.
Que toda boa experiência se sobreponha aquela que foi ruim… te desejo a possibilidade de mais e mais viagens.
Amém, amém, amém.
CÍCERA,
Não somos iguais, todos somos diferentes, diferentes que querem ser iguais, que alimentam essa fantasia. Quando encontramos diferentes em grau maior vem a reação hostil por parte de alguns talvez porque vejam essa diferença maior como um ataque à ” normalidade” que lhes dá segurança. São muitos que fingem desconhecer que as diferenças entre os seres humanos existem e é isso que é o normal. O Pedro é carinhoso, curioso é tem a grande sorte de te ter como mãe. Os teus depoimentos são lições de vida para todos nós. Parabéns, amiga, por nos dar essas lições. Te admiro muito.
Cícera, direitos existem para ser reivindicados e sem dúvida as pessoas precisam ser educadas neste sentido. Estamos num processo que eu imagino ser longo…
Parabéns por sua postura e principalmente pelo texto de grande sensibilidade.
Quanto ao cordão de identificação, é sim uma forma de educar as pessoas sobre inclusão. Parabéns, adorei mamãe bafão! Abraços
Obrigada Cássia.
Gratidão Ruth, por me lembrar que a diferença pode gerar em muitos medo. E viva o diferente.
Que história empolgante!
Mirella fico feliz que gostou.
Olá, Cícera! Que alegria ler esse feedback seu. Fico feliz em saber que gostaram do nosso acolhimento e receptividade, trato todos com o maior carinho. Cada um, oferta o que tem em seu coração.
Parabéns por essa mãe top que es
Um abração em Pedro ! Espero reve-los .
Deus abençoe e os protejam !
Com carinho, Clecia- JP
Clecia, obrigada pela acolhida a Pedro. Momentos assim aquece o coração de qualquer mãe. Eu também espero voltar em João Pessoa em breve. E tenho certeza que Pedro também quer. Continue sendo essa pessoa gentil e humanizado no trato com o diferente.
Por vezes para aprendermos a gentileza e até para a vermos e apreciarmos temos de passar pelas situações rudes e malévolas. Deus fecha portas mas abre sempre janelas… a vida é a aprendizagem da gentileza, da empatia, da compaixão, do respeito por nós e pelo outro e tudo isso é o Amor. Lindo texto Cícera . Grata
Que a gente possa praticar mais a gentileza. Afinal é tão bom quando a recebemos.