Após 30 anos trabalhando na escola, as vésperas de me aposentar, sou tomada de imensa angustia ao perceber que as relações familiares estão mais fragilizadas. Assim como algumas responsabilidades, que antigamente era dos pais e aos poucos foram sendo transferidas para a escola. Com o decorrer do tempo passamos a cuidar até da escovação dos dentes e vacinação.
Com o período da pandemia, as relações em muitas famílias se esfacelaram, pois, alguns pais não estavam acostumados a conviver com os filhos e principalmente educá-los.
É de conhecimento público que no período da pandemia a violência familiar aumentou, bem como, passamos a ter casos agudos de ansiedade, stress e depressão.
O “novo normal” foi difícil para todos… trabalhar online foi um novo aprendizado; muitas famílias não tinha um espaço adequado para as crianças terem aulas virtuais, o espaço de estudo tinha a concorrência muitas vezes de Televisão ligada, celular tocando, conversas de adultos e irmãos menores. O que dificultava a concentração dos mesmos.
E de repente a morte se fez presente nas famílias, que muitas vezes sequer tinham tido uma conversa com as crianças sobre o que acontece quando morremos.
Passamos um tempo, sem ir em lugares públicos, sem visitar os vizinhos, parentes e amigos. Algumas vezes recebemos parentes em casa, pela dificuldade que temos em dizer NÃO, mas sendo carcomidos pelo medo de pegar Covid 19.
A vida passou por grandes transformações. Vimos parentes e amigos que trabalhavam por conta própria, perdendo suas fontes de renda. Dependendo de parentes, amigos ou do auxílio do governo. Não faço ideia da grande devastação emocional que muitas famílias passaram. E no meio desse turbilhão de mudanças estavam as crianças. Que mesmo não tendo noção das dificuldades financeiras pela qual passavam seus pais, sentiam suas angustias e adivinhavam suas dores.
A pergunta é: Como exercemos o nosso papel de pai e mãe nesse período de pandemia?
Afinal já tínhamos dificuldade antes da pandemia de exercer nossa autoridade de pai e de mãe e, principalmente, de impor limites aos nossos filhos. Não tenho dúvidas que momentos há em que é muito mais fácil fazer do que ensinar.
Bem mais fácil é permitir, que estabelecer regras e fazer cumprir os combinados.
Ao falar, estou falando do lugar de mãe, que tem experiência da dificuldade de estabelecer hábitos saudáveis, pois como meu filho é autista e tem defasagem entre a idade mental e a cronológica, a necessidade da repetição é gigantesca.
Também posso afirmar com muita tranquilidade que nós, que cuidamos, fomos vítimas do desamparo e da exclusão no período da pandemia.
Mas voltando ao tema da escola, os educandos e os profissionais da educação, acredito que todos nós estamos a pedir socorro. Pois estudantes, aprendizado, metodologias, professores e gestão, parecem viver uma comunicação onde cada um fala numa língua. Pois no final a mensagem é truncada e incompreensível.
Acredito que enquanto pais precisamos retomar o nosso papel de autoridade e de educar, pois o respeito ao próximo precisa ser construído nas relações do cotidiano.
Os educandos, após dois anos ficaram com lacunas em sua aprendizagem, e apresentam um comportamento de resistência na construção do conhecimento, durante esse período alguns foram aprovados de forma automática. Estamos numa tarefa árdua para voltarmos aos bons hábitos de estudos que requer uma parceria bem delineada escola/família.
Cabe à escola voltar a ser um espaço de construção de saberes e humanização na relação com o outro.
Precisamos reaprender a ver, sentir e nos humanizarmos. Pois só assim poderemos imaginar uma sociedade com menos intolerância e agressividade e elaborar relações pautadas no amor e respeito.
Boa Cícera, há muito a fazer e apreendermos, todos❗️
Muitos pais tem dificuldades para dizer “não” aos filhos. Precisam criar consciência de que só dizer “sim” gera jovens mimados e adultos sem autonomia, dependentes e inseguros.
Isso reflete na escola, já que a criança precisa de uma boa base familiar.
Foram muitos desafios, aprendizados e ainda vamos continuar a descobrir caminhos. Parabéns, Cicera, como sempre você nos traz excelentes reflexões.
Uma grande verdade levantada por vc, que Deus nos ajude nesse recomeço 🙏
É isso Cícera mas também que a educação começa não com autoridade mas com o exemplo e esse começa em casa logo desde que nascemos. Bom mesmo era que os pais se preocupassem em evoluir para entenderem as suas crianças. As crianças de hoje estão bem mais desenvolvidas física, mental e espiritualmente do que os pais e mantê-las no mesmo registo em que eles cresceram é o que dá origem ao desfasamento e à falta de comunicação. O respeito e a consideração pelo outro ensina-se respeitando.
Como sempre Cícera o seu talento dá-nos num belo texto uma excelente reflexão. Grata
Excelente texto