Lição de Amor no Discurso de despedida

Hoje estou me sentindo como o personagem de Ítalo Calvino, o Visconde Partido ao Meio. Um lado sou alegria e ternura, outro insegurança e medo.

Meu lado insegurança e medo teme sobre como meu filho irá passar o tempo, a partir de agora. Já não irá mais para a escola, terminou o Ensino Médio e não está alfabetizado. Continua querendo ser padre e trabalhar na Catedral como voluntário.

Tenho tantas dúvidas. Qual o espaço que meu filho irá ocupar na sociedade Cacerense?  Qual empresa o aceitará como funcionário? Existe alguma instituição que ofereça cursos para desenvolver e aperfeiçoar suas habilidades de falar e inventar histórias? Como Pedro Henrique poderá rasgar uma janela no mundo e saltar para a vida? Viverá ele algum dia com independência e total autonomia?

Para a maioria dessas perguntas a resposta é: Não sei.

Porém meu lado alegria e ternura é movido a esperança. E na última sexta-feira ele provou que rasgará tantas janelas no mundo, quantas forem necessárias para a sua sobrevivência. Na sala de aula, durante a confraternização da turma, pediu a palavra para se despedir da turma.

 E com várias folhas de papel na mão foi para frente da sala e falou sobre o processo de estudar, seu amor pela igreja, dos professores que ele gosta, das pessoas que ele considera como grandes amigos, Jair e Neuliane. Falou da amizade dele com Aninha e que agora ela é sua madrinha de crisma, falou da amizade com a professora Rosania, Dulce e Ana, da saudade de sua avó, da alegria de frequentar a igreja com sua madrinha Claudia, agradeceu aos colegas de sala pelo tempo de convivência. Lembrou de Maria Helena, de quando ela ainda estava na barriga da Jéssica, uma das professoras dele da sala de recursos, e que ele vivenciou o período da gravidez.

Sua fé reverberou no espaço ao cantar o cântico de Nossa Senhora do Carmo e no convite aos colegas para cantar o cântico Oração da Família. No final pediu um abraço aos amigos de sala e todos o abraçaram, num abraço coletivo composto por carinho e respeito

Quando cheguei na escola às 17 horas, encontrei a ADI dele em lágrimas, não conseguia nem falar direito de tão emocionada. A coordenadora disse: Pedro deu um show hoje na sala. Foi lindo. Quando encontrei Jéssica ela disse: Mandei o vídeo para você. Acredita que ele falou por 10 minutos?

Ao ver o vídeo, o silêncio deixou-me curiosa. Perguntei para a Jéssica: E os alunos da sala? Ela comentou: Ouviram ele com atenção plena. Sou professora e sei o quanto é difícil dez minutos de silêncio em uma sala de aula.

Então percebi que o aprendizado nessa turma foi uma via de mão dupla. Pois Pedro Henrique, quando conversa com outra pessoa o assunto está saindo mais organizado e, agora ele está conseguindo parar para ouvir o que o outro diz.

Em contrapartida, tenho certeza que estes amigos de sala aprenderam a conviver e a respeitar Pedro, e esse aprendizado irá se refletir ao longo da vida deles, pois saberão respeitar, conviver e tratar bem qualquer outra pessoa que seja diferente deles, sem nenhum julgamento.

 A grande lição é que quando permitimos e aceitamos o outro do jeito que ele é, podemos aprender a sermos mais humanos e a termos compaixão, pois quando isso acontece transformamos suas vidas e nos transformamos também.

Gratidão a todos os colegas de sala do 3º Ano A, da Escola Estadual “Frei Ambrósio”, de Cáceres – MT, por possibilitar a meu filho ser quem ele é, em essência.  Com sua fala sobre: igrejas, santos e padres, e sua fé. Esta lhe dá o conforto e a segurança de acreditar que tudo é possível. Desejo a cada um de vocês a mesma fé de Pedro. De acreditar que tudo é possível.