Eu, procuro viver, mas percebo que ao longo da vida na maioria do tempo apenas existi. E nesse existir fiz aquilo que a maioria de nós aprendemos que era o certo a fazer. Estudar era o certo a fazer, pois era garantia de ter um trabalho, passar num concurso também era o certo a fazer, pois era sinônimo de estabilidade, quando eu era jovem. Hoje não mais. E levei isso a sério. Passei em três concursos, todos para ser professora. Talvez na época eu acalentasse a fantasia de que professor era a profissão que podia mudar o mundo.
Hoje compreendo que essa mudança cabe a cada um de nós, inclusive e principalmente do ponto de vista de mudança pessoal.
Assim como muitos da minha idade, considerei importante ter casa própria, um carro para ter a liberdade de ir e vir. Claro sei que para muitos não chega a ser carro, um popular. Mas é o possível de acordo com minhas condições financeiras.
No geral falo pouco, mas gosto de ver. Então adoro observar culturas diferentes, experimentar sabores diferentes, ouvir histórias, mesmo que as vezes a língua que o outro fala não seja a minha. Mas nosso cérebro sempre encontra um jeito de preencher as lacunas e nosso corpo acompanha o ritmo.
Não tenho dúvidas que durante a minha vida muito mais existi do que vivi. Pois enquanto estamos preocupados em fazer as contas caberem no salário mensal, apenas existimos e mais fácil somos manipulados pela mídia de consumo. E ela sempre nos mostra que precisamos de mais coisas. Muitas vezes inúteis.
Caso esteja na dúvida caro leitor, dê uma volta nos cômodos de sua casa, abra armários e gavetas e tenho certeza que você encontrará um objeto ou dois que no seu dia a dia nunca é usado e pior, pode ser que você tenha se endividado além do seu limite para adquiri-lo.
Estou precisando praticar a arte do desapego a livros, mas está difícil. São companheiros de longas jornadas. Com eles conheci tantos lugares, culturas e histórias diferentes, que me permitem viajar com leveza e desfrutar das belezas encontradas pelo caminho.
Esse mês, indo para Cuiabá, tive a oportunidade de apreciar os ipês floridos, com tons de rosa variados. Como não estava dirigindo, pude ficar um longo tempo em estado de contemplação. Em momentos assim, estou a viver.
Vivo também, quando encontro meus amigos para conversas filosóficas, ao parar para fazer atividade física, ao apreciar um pôr do sol, ao encontrar os amigos que ganhei na caminhada da vida, no convívio com a minha família. A cada conquista mínima de meu filho, ao passar creme no corpo fragilizado de meu pai e, nos momentos que seus passos se tornam lentos e cambaleantes lhe estender a mão.
A pergunta que vos deixo é: Como cuidar do outro e se cuidar? Pois para isso o que mais precisamos é de pausas, para nos reabastecermos.
Pare e pense um pouco. Até na hora a que teríamos direito a fazer pausas, em como temos dificuldade de desapegarmos das responsabilidades e cuidados. E se morrêssemos hoje?
De um jeito bom ou ruim irá aparecer alguém para fazer aquilo que você fazia.
É a lei natural da vida. Somos facilmente substituídos.
Talvez a grande lição que precisamos aprender seja: Quando o outro está cuidando, não importa o que ele faça. Naquele momento, dia ou semana de folga, nada que acontecer com a pessoa que você cuida é sua responsabilidade. Mas sim da pessoa que cuida, naquele momento.
Você que cuida vai dizer que não é fácil. Eu sei. Cheguei a esta epifania ontem. Após uma conversa acalorada com minha irmã. Admito que queria decidir quem poderia cuidar de meu pai, na casa dela.
Então, percebi que isso não era responsabilidade minha. Essa percepção foi libertadora.
Logo, peço desculpas a minha irmã, por ter sido tão intransigente sobre cuidados ao longo dos anos.
Acho até que ao invés do final de semana, vou passar a semana inteira em Vila Bela da Santíssima Trindade. Um lugar e uma oportunidade ótima de viver.
Se permita!! Carpe dien!!!
Valeu a pena cada momento. Pedro viveu momentos de inclusão incríveis.
Uma pausa ilumina, você é luz Cícera!
Flavio, sonho em tornar a caminhado do meu filho mais suave.
Vc não sabe se ele acha a caminhada dele dificil ou dura… ele apenas vive o que escolheu vir experimentar…
Que esta viagem seja proveitosa. Libertadora já é.
Kelem, a viagem foi realmente maravilhosa.
És um ser de Luz !! Minha admiração sempre!
Sabedoria em suas palavras sempre!
Mas…Permita-se um dia, dois dias…uma semana para Vc!!
Cristiane< realmente a gente precisa aprender a se permitir.
O desapego é realmente o trabalho a fazer… não controlar tudo e todos é o trabalho do desapego… confiar nos que pensam e agem diferente de nós não nos permite criticar ou julgar… Desapegar é o precesso de uma vida … pois no fim, apenas levamos a nossa Alma… Força Cícera…
E o desapego é difícil.