MÚSICA SEM FRONTEIRAS

Na igreja Nossa Senhora do Carmo que Pedro frequenta, anunciaram um curso de violão.
Ele já tinha o instrumento — presente antigo, de quando a música era só sonho.

O convite era simples:

“Quem quiser aprender, pode se inscrever.”

Pedi uma vaga para ele. Expliquei que, mesmo sem instrumento, Pedro levaria o seu.
Inscrição feita, esperança renovada.

Nas primeiras aulas, saía com os dedos doendo. Mas não faltava.
Durante três meses, o progresso parecia lento.
Na semana da apresentação, finalmente acompanhou o ritmo da música.

Cantar, ele sempre soube: tem voz firme e doce — daquelas que desarmam o silêncio.

Na noite da festa, na paróquia Nossa Senhora Aparecida o pátio fervilhava.
Missa encerrada, começou a quermesse:
pastéis chiando no óleo, espetos no braseiro, leilão animado, doces caseiros, crianças soltas, famílias à conversa, o ar perfumado de comida e riso.

Então, o palco se acendeu.

Pedro subiu com o grupo — adolescentes e jovens.
Todos unidos por um desejo: tocar e cantar para Nossa Senhora Aparecida.

Violão no colo. Olhos atentos. Coração desperto.

Quando começaram “Santa Mãe Maria, nessa travessia”, o pátio silenciou.
Pedro tocava e cantava. Entregue. Presente.
Se errou, não importa.

Importa que, por alguns minutos, ele pertenceu.

Fez parte de algo que o olhava, ouvia, aplaudia.
Para quem vive o atípico, aplausos não são rotina.
Ocupar um palco, ser visto e acolhido, exige o que muitas famílias já gastaram: o impossível.

Mas naquele dia, a alegria de Pedro era um sol inteiro.
Desceu radiante, cercado de quem entende o valor de uma conquista simples.
Porque no mundo atípico, cada passo é uma vitória.

Gratidão aos que criaram o projeto Música Sem Fronteiras —
por abrirem mais do que vagas: abriram espaço. E, com ele, esperança.

Na festa de Nossa Senhora Aparecida, em 2025, o autismo e a síndrome de Down estavam no palco.
Foram vistos. Aplaudidos. Amados.

Viva Nossa Senhora Aparecida.
Viva as diferenças.
Viva todo gesto que amplia o possível.

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Regiane Dutra
Regiane Dutra
21 dias atrás

Eu estava por lá e foi lindo e emocionante. Parabéns pro Pedro. Parabéns pra vc!👏🏽👏🏽🥰

Marilza Ribeiro
Marilza Ribeiro
21 dias atrás

Parabéns ao Pedro, Cidinha e meu filho Gabriel que tbm é autista “grau leve” como dizem, mas nós mães, sabemos que não é bem assim. Belo texto Cicera, foi lindo ver a inclusão acontecer, parabéns a todos os envolvidos nesse lindo projeto. Que Deus e nossa mãe Aparecida guie nossos nossos filhos e todos os demais jovens que dele fazem parte. Parabéns à Lilian, aos professores e todos que se dedicaram para colocá-lo em prática.

Maria Rejane
Maria Rejane
21 dias atrás

Maravilhoso

Vera Lúcia de assunção Rodrigues
Vera Lúcia de assunção Rodrigues
21 dias atrás

Ai perdi…mas vai ter outras oportunidades… parabéns Pedro!!

Adriano Lopes
Adriano Lopes
18 dias atrás

Parabéns, Cicera! 🌟
O que aconteceu com Pedro naquele dia é um lembrete profundo de que a verdadeira inclusão nasce quando há espaço, sensibilidade e escuta — e que cada pequeno avanço carrega em si o valor de uma grande vitória. Seu texto é inspirador e mostra com tanta clareza o poder da arte, da empatia e da esperança. 💛👏