Enquanto Isso, a Vida Acontece

Ontem, durante a palestra sobre o “Direito da Pessoa com Deficiência”, algo ecoou mais forte que as falas ao microfone: o silêncio das ausências.

O evento contou com presenças importantes: a Superintendente Estadual de Políticas Públicas da Pessoa com Deficiência, Taís Paula; o Presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, Otair Rondon; a Secretária de Assistência Social – Leilane Barros; Dr. Leonardo Albuquerque – Secretário de Estado,; Poliana Souza, representante dos Direitos Humanos; e o vereador Isaías Bezerra, responsável pela organização do encontro.

Eu, Cícera Alves Feitosa, estive presente representando as mães com filhos no espectro autista e as associações APAAC e ASSELC.
Também tivemos representantes da JUDOCAM, AGISOL, APAE e ASCS. Professor Emanoel Carvalho, Paralímpico Cáceres – UNEMAT.

Contudo, notaram-se lacunas — discretas, mas eloquentes: secretarias como Saúde, Educação, Cultura, Infraestrutura, Esporte e Lazer, assim como outros representantes legislativos, não se fizeram presentes.

Talvez por sobrecarga, talvez por agenda. Mas, seja qual for a razão, a ausência de certos olhares num debate tão sensível deixa um vazio que palavras não preenchem.

E houve outras ausências ainda mais dolorosas: mães, jovens com deficiência, pessoas no espectro autista. Não por falta de interesse — mas por cansaço. Cansaço de esperar por respostas que raramente chegam. De ouvir que tudo está “em estudo”. De viver num presente onde o cuidado ainda parece promessa.

A Secretaria de Assistência Social estava lá. E isso conta. Mas sabemos que presença, por si, não basta. É preciso transformação.

As leis municipais que garantem direitos às pessoas com deficiência e autistas já existem. Falta apenas que saiam do papel e entrem na vida.

O CER precisa de profissionais qualificados. Se a questão é financeira, talvez possamos aprender com a generosidade que se aplica a outros setores.

Sugestão simples: invista-se na saúde como se investe nos cargos de decisão. Um terapeuta ocupacional, um neuropediatra, um fonoaudiólogo podem fazer mais pela dignidade de uma família do que muitos decretos.

Enquanto isso, seguimos com perguntas legítimas:

— Por que laudos médicos ainda são entraves, se clínicos e pediatras locais poderiam agilizar diagnósticos?

— Por que cadeiras de rodas, aparelhos auditivos e fraldas ainda parecem privilégios e não direitos?

— Por que medicamentos essenciais são disputados como favores, quando deveriam ser garantias?

— Por que, num município que se diz acolhedor, as calçadas repelem em vez de incluir?

Projetos como o “Buscar”, que existem em Cuiabá, mostram que é possível fazer diferente. Basta querer. E agir.

Com a criação do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, espera-se que o “depois” finalmente se transforme em “agora”.

Que uma Audiência Pública seja mais do que um ritual — que se torne um ponto de viragem.

Porque quando falamos de direitos, o tempo não é luxo. É urgência.

E se governar é servir, que se sirva com equidade.

O futuro já prometeu demais. É hora de cumprir.

3.7 3 Votos
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
1 Comentário
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
Ver todos os Comentários
Kelem Cristina de Sene Santos
Kelem Cristina de Sene Santos
29 dias atrás

E que políticas públicas de qualidade possam realmente acontecer. Que governantes abram seus olhos e ouvidos para o que acontece ao seu redor, não apenas porque é bonito aparecer, mas porque a presença, quando é real, faz sim a diferença.