A vida ao ser cuidada, agradece

O Ano Novo veio acompanhado da angustia das mães, que vivenciam o sofrimento do filho(a), com espectro autista e têm medo do barulho causado pelos fogos de artifício.

Ao ver a lei que dizia ser proibido, inclusive com a possibilidade das pessoas que praticam o ato, serem multadas. Fiquei um tempo tentando descobrir o que fazer para a lei ser respeitada, e a quem as mães deviam recorrer. Li em algum lugar que era só ligar no 190; outra amiga informou que era na polícia ambiental.

Então, procurei o telefone da Policia Ambiental. Perguntei se era para eles que devia ligar e como proceder.

O policial com quem conversei disse que era para lá sim, era só ligar e informar o endereço da pessoa que estava soltando fogos. Agradeci pela informação e avisei que colocaria o número deles no grupo de mães.

E fiz isso. Outra pessoa postou no grupo a lei municipal que proíbe soltar fogos com estampidos e quais as multas aplicáveis.

Uma mãe sábia, ou já frustrada com a falta de resultados, comentou que seria perda de tempo ligar.

Fiquei um longo tempo a pensar, qual a função de uma lei que já foi sancionada e não é executada? E, por que não é executada?

Por que o comércio continua vendendo fogos?

Por que as pessoas continuam comprando?

E nossas relações humanas, como estão sendo construídas?

E aquela velha máxima, o meu direito termina, quando começa o do outro.

Ou, será que eu não sei nada sobre o meu vizinho do lado? Até se nota um jeito diferente na forma da criança ou o jovem agir, mas não é problema meu. Como é mesmo a frase “quem pariu Matheus que balance”?!

Então eu pergunto: nós que gostamos tanto de lembrar que somos seres humanos, estamos vivendo essa humanidade?

 Quando sabemos que o filho do vizinho ficará descompensado, vai chorar, gritar, tremer de medo e em muitos casos, ter crises convulsivas.

“O povo brasileiro é tão criativo”, aonde está essa criatividade que na hora de comemorar, não consegue pensar em diferentes formas de comemoração, sem incluir os fogos de artificio com estampidos?

Quando chegou  próximo à meia noite do dia 31/12/2023 e comecei a ouvir o barulho dos fogos, me lembrei de uma época em que meu filho era pequeno e aqui em Cáceres passava o carro jogando veneno  nas casas para diminuir os mosquitos… e meu filho pequeno, com três ou quatro anos, ficava desesperado com o barulho e a fumaça produzidos.  Ele ia para a cama, se enrolava da cabeça aos pés, chorava, tremia de medo. Eram momentos torturantes, época que pouco se falava em autismo.

Hoje com tantas informações a circular, sobre autismo, epilepsia e tantos outros transtornos mentais, penso que os órgãos fiscalizadores   não deveriam ficar aguardando por um telefonema, pois a mãe que estiver socorrendo um filho ou filha em crise, não terá tempo de ligar.

Embora, estivesse em casa, tive a sensação que ouvia o barulho de fogos em todas as direções. Talvez um mapeamento de onde moram as crianças autistas na cidade, possa ajudar.

E, não comentei sobre os animais. Pois se pensarmos neles também, nas próximas comemorações, não haverá fogos de artifício, com estampido.

Uma das perguntas que tenho agora é, quantas multas foram aplicadas no dia 31/12/2023? Caso nenhuma aconteceu, qual foi o motivo?

Pois, em meio século de vida, ouvi inúmeras vezes a seguinte frase “é lei cumpra-se”! E por que nesse caso a lei não está sendo cumprida?

Eu, você e todos nós juntos podemos fazer diferente para fazer a diferença. Não soltar fogos pode ser o seu gesto de cuidado em 2024.

Parem de soltar fogos com estampidos! Desenvolvam as virtudes da empatia e da compaixão!

A vida agradece!

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Maria Rejane de Menezes
Maria Rejane de Menezes
1 ano atrás

Acho que se é proibido, a primeira ação seria a divulgação ampla da lei em todos os veículos de comunicação e coibir o comércio … eu particularmente soube da lei nas véspera do final de ano.

Carla Fabiane Pantaleão Leite
Carla Fabiane Pantaleão Leite
1 ano atrás

Nossa! A cada leitura feita de seus textos me encanto com a sua coragem e sabedoria. Obrigada por relatar exatamente especialmente nesse texto gritar por muitas famílias em especial é um grito meu aqui em casa o natal e o ano novo foram terríveis. Já não basta a falta assistencial básica em todos os setores que por lei é de direito e não existe.

Sol
Sol
1 ano atrás

Excelente texto e observações