Mulheres extraordinárias que amam ao infinito

“São mulheres extraordinárias que amam ao infinito” no contexto que eu à ouvi, ela é perfeita. O problema que ela grudou em mim como piche, secou e me incomodou o resto do dia e a noite também. No outro dia, 08 de março Dia Internacional da Mulher fui mandar uma mensagem e esta frase continuava lá gritando para sair.

Então aqui está. Ela é de um autor bem conhecido e respeitado, desses vídeos que as pessoas postam no grupo. Como eu disse no contexto em que aparece no vídeo ela é perfeita. Porém ontem eu já estava um pouco incomodada com uma frase que um vendedor me disse na loja de material de construção. A pessoa que ele estava atendendo era um conhecido de longa data, seu Pedro, que cumprimentou meu filho Pedro, que não o reconheceu na hora.

Nos cumprimentamos à distância e seu Pedro continuou conversando com meu filho.  Após eu ter terminado a minha compra, o vendedor veio na minha direção e disse que eu era privilegiada por ter um filho como Pedro e deveria ser muito grata. Comentou sobre um sobrinho seu que, segundo ele, tem mais de 40 anos e é totalmente dependente.

Disse a ele que sou muito grata por meu filho caminhar, falar, comer e tomar banho sozinho. Mas para Pedro estar nesse estágio há 18 anos vivo desafios que só eu e Deus sabemos, pois nunca deixei de levá-lo ao médico e tentar todas as terapias alternativas possíveis; já fiz tantos cursos de terapias que ao me aposentar como professora poderia, com muita tranquilidade, ser terapeuta.

Entretanto, ainda alimento em alguma parte do meu ser abandonado e esquecido, o sonho de ser escritora. E no momento já experimentei todos os tratamentos alternativos que acreditei poder ajudar meu filho. Minha busca será até ao infinito da minha vida. Mas experimento um momento de calmaria, pois sei que tudo que estava ao meu alcance já fiz. Consciência em paz…

Agora também sei o que tanto me incomodou na frase.

Realmente, somos como mães de filhos diferentes, “mulheres extraordinárias que amam ao infinito”.

Mas também sofremos.

Sentimos dor…

Sentimos raiva …

Nos cansamos …

Nos estressamos …

E o mais importante, para sermos mulheres extraordinárias que amam ao infinito, precisamos ser cuidadas também.

No Dia Internacional da Mulher, se pergunte. O que eu posso fazer para que essas mulheres extraordinárias, que amam ao infinito, continuem vivas, doces e meigas?

Como a sociedade pode criar políticas públicas, para estas mães continuarem sendo a argamassa que une toda a família em momentos de sentimentos tão antagônicos e contraditórios?! Necessidades e interesses tão diferentes?

Percebo que na maioria das vezes estamos sozinhas.

Quando precisamos trabalhar para manter a casa fica difícil torná-los seres independentes e livres. Pois o ensinar significa um milhão de vezes repetir e repetir a mesma ação. Entendo perfeitamente que é mais cômodo fazer do que ensinar.

E nesta ação muitas vezes me perdi.

Portanto, você pode até me ver como uma mulher extraordinária que ama ao infinito. Mas lembre-se, sou feita das mesmas moléculas que você também é feito! E, preciso de cuidados.

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Kelem Cristina de Sene Santos
Kelem Cristina de Sene Santos
1 ano atrás

Todos precisamos de cuidados, mas essa necessidade é invisível por que é mais confortável não “ver” a necessidade do outro pois isso desobriga a ação.

Noscilene
1 ano atrás

Um dia por vez! O progresso , ainda que pequeno, é resultado de muito amor e dedicação. Eu vejo essas mulheres que amam ao infinito. Eu vejo você, escritora, Cícera Alves Feitosa! 👏🏻

Flávio
Flávio
1 ano atrás

Parabéns Cícera pela lucidez que escreves sobre cuidar e ser cuidado. Já és uma escritora 📝 de “mão cheia” de amor! Feliz dia das mulheres

Márcia Machado
Márcia Machado
1 ano atrás

Amiga Cícera, já fomos tão próximas, íntimas até. Hoje, mesmo distantes fisicamente, saiba que está em meu coração, sempre, emano energias do bem e te admiro cada vez mais. Não tenho nenhum filho/filha, neto/neta com limitações semelhantes ao seu filho Pedro, são todos saudáveis fisicamente, mas, por dores diferentes, tenho sofrido e carregado uma cruz, que por vezes, pesa demais….e é isso “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Te admiro, te amo e respeito pela mãe/mulher/professora/escritora incrível que você é.

Luciana
Luciana
1 ano atrás

Se tem algo pelo qual acredito e não tenho dúvidas é de que o Pedro é feliz, e de que você Cícera é uma genuína, legítima e excepcional escritora!
Sim! É uma mulher gigante que merece muito carinho e todo zelo de uma frágil flor.
Um grande abraço carinhoso p/ você minha amiga.

Ruth Lifschits
1 ano atrás

Ruthlifschits