“Não é desconhecimento. É surdez escolhida. Não servirei.”

Em 1549, Étienne de La Boétie escreveu o Discurso da Servidão Voluntária. Lembrou-nos que os grilhões não são de ferro, mas de hábito. Hoje, séculos depois, os grilhões mudaram de forma — chamam-se indiferença, discurso vazio, silêncio cúmplice.

Na Câmara Municipal, vereadores alegam ignorar o aumento de crianças autistas. Não é ignorância. É escolha. E quem escolhe não escutar, oprime. Quem finge não ver, sustenta a injustiça.

Contra essas correntes invisíveis, este poema não se curva. Ele rompe.

 POEMA: NÃO SERVIREI

Não tenho medo.
Nem da mentira que se repete até virar lei,
nem das telas que hipnotizam,
nem do medo embalado em promessas,
nem da ordem disfarçada de cuidado.

Não tenho medo.
Nem da fila que chamam de progresso,
nem da fome vestida de oportunidade,
nem da esmola trocada pelo meu silêncio.

Vejo as correntes invisíveis:
o costume que ensina a obedecer,
a distração que apaga a memória,
o medo que sussurra: cala-te, sobrevive,
a ilusão de que um “like” muda o mundo,
o ódio que separa aliados naturais.

Mas escolho outro caminho.
Rompo com o “sempre foi assim”.
Rompo com o “não adianta tentar”.
Rompo com a paz falsa que exige submissão.

A liberdade não se pede.
Toma-se.
Não desce do alto.
Brota do chão.

E enquanto houver quem repita
que não dá para mudar,
eu direi, com o corpo inteiro:
Não servirei.

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Berenice Huszcza
Berenice Huszcza
2 meses atrás

Lindo o poema, uma pena que muitos não entenderão, inclusive vereadores.
Que com pouca cultura entram para nos representar. Culpa do povo que não sabe escolher seus representantes. Depois não lembram em quem votaram e nem podem cobrar. Triste, mas a realidade.

Kelem
Kelem
2 meses atrás

E quem escolhe o caminho do “não vão me calar” com promessas e/ou pressões acaba, infelizmente, pagando um alto preço, como já senti na pele da minha família…