Vidas rascunhadas? Vidas saboreadas?

Você cuidador faz bom uso dos momentos que podem ser seus também?

Imagino que você, deve ter ficado bem chateado com essa pergunta, afinal a gente leva uma vida tão sem tempo a cuidar dos outros, não é mesmo? E ainda temos dificuldade de perceber nossas necessidades. Priorizá-las então, é quase impossível. Pois tudo que o outro precisa, parece ser mais importante e urgente. Vivemos a vida na forma de rascunho e nunca dá tempo de passá-la a limpo.

Qual foi a última vez que você parou para ouvir uma música que gosta? Ou se sentou no seu sofá com um livro no colo e uma caneca de café ou chá? Uma taça de vinho? Ou mesmo um copo de água, com tempo para degustá-lo?

Mas deixa eu te contar uma experiência pessoal que me chateou muito, há cinco anos atrás, mas que se eu tivesse colocado em prática, talvez, hoje estivesse sentindo menos dores. Qualquer um que tenha problema na coluna sabe que, quando nosso peso aumenta, as dores intensificam.

Enquanto argumentava sobre a minha total falta de tempo, a Drª Maria do Socorro ouvia com atenção plena meu relato. Depois fez sugestões valiosas, sobre os cuidados com meu pai e meu filho. Eu as uso constantemente. Infelizmente, não segui à risca as que ela fez para mim.

Por sinal era bem simples, levar uma marmita para o trabalho e ao invés de vir a minha casa almoçar, pegar esse tempo para fazer uma atividade física. Antes de fazer essa proposta, ela  perguntou se existia uma academia perto do meu trabalho e eu já tinha confessado que existia uma na mesma rua.

Na época achei que vir a minha casa na hora do almoço era mais importante, cheguei a me matricular em uma academia, claro que não foi na hora do almoço. Mas por não conseguir controlar o horário acabei desistindo. E nesses cinco anos ganhei quilos extras.

Ano passado quando comecei a levar meu filho para fazer hidroterapia o fisioterapeuta que atendia Pedro sugeriu que eu fizesse também, argumentei que isso poderia atrapalhar Pedro e, desperdicei a oportunidade.

Como meu quadro de dores na coluna ficou muito pior recentemente, semana passada tomei a decisão de também fazer hidroterapia. Quando disse a Pedro que também iria fazer hidroterapia ele perguntou-me em qual piscina. Disse-lhe que era junto com ele. Sua resposta foi não, pois aquela piscina era dele. Claro que isso não foi obstáculo e comecei a fazer.

E na quinta-feira chegou em Cáceres um frio acompanhado de chuva e depois ficou uma neblina fina e gelada. Não tive argumentos para convencer Pedro de que era melhor não irmos porque estava frio. Ele adora estar na piscina. Então lá fomos nós. Acredito que ontem à tarde fomos os únicos a aparecer. Afinal ao redor da piscina o piso estava seco, o chão do banheiro sem respingo de água.

O professor disse vocês vão me desculpar, mas eu não vou entrar na água. Ele foi orientando e nós fizemos os exercícios. Pedro conversa muito mais do que faz as atividades. Na verdade, ele adora ficar na parte da hidromassagem.

Em resumo, foi ótimo. Percebi também o quanto somos acomodados e desistimos com facilidade do que queremos. Tudo se torna empecilho.

Agora, ao invés de observar se meu filho está fazendo ou não a atividade, estou aproveitando o tempo para cuidar de mim. É o mesmo tempo que disponibilizo para levá-lo para fazer fisioterapia, mas estou otimizando esse tempo em benefício próprio.

A pergunta que faço para todos nós que somos cuidadores é: Qual a fatia do dia que também pode ser nossa, que estamos deixando de saboreá-la?