Entre Silêncios e Vozes: o que ecoou na 5ª Conferência das Mulheres de Cáceres-MT

Em Cáceres, as vozes se reuniram.
Mulheres diversas, inteiras, partidas e inteiras de novo —
rompendo o silêncio histórico que tantas vezes lhes foi imposto.

Foi na 5ª Conferência Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres que o que era vivido em calçadas, corredores de hospital, cozinhas, filas de espera e salas de espera… finalmente encontrou lugar de fala, de escuta e de proposição.

Ali, falou-se de gênero com coragem — e com consciência de que gênero não exclui:
inclui todas as mulheres — negras, brancas, indígenas, trans, lésbicas, mães, filhas, cuidadoras, trabalhadoras.
Inclui as que choram em silêncio e as que gritam por justiça.
Inclui as que a sociedade insiste em deixar à margem.

Uma das pautas mais urgentes:
a Delegacia da Mulher precisa funcionar 24 horas.
Porque a violência não tem expediente.
Porque muitas só conseguem denunciar quando o agressor dorme.
E, mesmo assim, ainda enfrentam o segundo golpe:
o da desconfiança, o do despreparo, o da revitimização.

Reivindicou-se ali também o direito a um acolhimento mais humanizado
onde a mulher, ao denunciar, não precise implorar para ser acreditada,
nem voltar para casa com as mãos vazias e a alma quebrada.

Foi levantada a proposta de que seja garantido, no ato da denúncia, um valor inicial de pensão para os filhos.
Um valor que assegure o mínimo para seguir —
e que possa ser revisto depois.
Porque o amanhã começa no prato de hoje.

E para que esse amanhã exista, é preciso um fundo de amparo
um projeto concreto que dê a essa mulher condições reais de sobreviver,
de sair de casa sem voltar para a rua,
de romper com a violência sem cair no abismo da pobreza.

Falou-se, com firmeza, das diferentes formas de coerção e manipulação.
Porque a violência não é só o tapa.
É o controle financeiro.
É o gaslighting.
É o isolamento.
É o medo disfarçado de proteção.

Reconheceu-se que o preconceito também tem gradações:
Ser mulher já é difícil.
Ser mulher e negra, mais ainda.
Ser mulher, negra e LGBT, é viver na interseção mais negligenciada da política pública.
E isso precisa mudar.

Por isso, foi defendido o letramento de gênero
não como bandeira ideológica, mas como ferramenta de emancipação.
Para que a mulher compreenda os mecanismos que a silenciam,
e possa, com consciência, romper com eles.

Também se falou da dor que adoece em silêncio:
o câncer.
Doença que atravessa o corpo de milhares de mulheres em Cáceres e no Brasil,
e que exige mais do que tratamento —
exige prevenção, cuidado, dignidade e recurso público.

Entre uma fala e outra, entre as lágrimas contidas e os aplausos merecidos,
ficou clara uma certeza:

Política pública se faz com escuta.
Com dados, sim — mas também com histórias.
Com orçamentos — mas também com corpos presentes, vivos, exigindo existência digna.

A 5ª Conferência não foi só um evento.
Foi um espelho para a cidade.
E um grito coletivo dizendo:
Nós estamos aqui.
E não vamos mais aceitar caladas.

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