Aulas de gentileza e um constante aprender

Aprendo com meu filho, sempre. Tenho certeza que há outras mães de filhos atípicos que também poderiam dizer o mesmo. E nesse aprender constante, não compreendo como nossos gestores, que dizem se preocupar com a educação, agem de forma que prejudicam o desenvolvimento de nossos filhos.

Isso, numa época em que a tecnologia permite que dados da nossa vida pessoal e de nossos filhos com espectro autista, ou qualquer outra deficiência seja ela física ou mental, estão à disposição de nossos gestores com apenas um clique na tela do computador.

Porém, acompanho todos os anos, no início do ano letivo a angústia e o desespero das mães e pais cujos filhos estão em idade escolar. As aulas iniciam e só depois os gestores vão pensar em contratação e formação para os profissionais que vão acompanhar estas crianças.

É necessário encaminhar uma lista para a gestão dos alunos com deficiência e, eu gostaria de entender o motivo, uma vez que na maioria das vezes, este aluno já estudou na escola no ano anterior. Quando não estudou, na hora da matrícula os pais apresentaram um laudo dessa criança, ou comunicaram qual era a deficiência dela.

O momento de observação e conversa com os pais, em geral acontece nas séries iniciais, para aquela criança que não tem um laudo. Então professor, coordenação e direção orientam a família a procurar o profissional da saúde para que se tenha um diagnóstico.

Portanto, se o estudante já chegou na escola com um laudo, por que no primeiro dia de aula não está lá a pessoa que será seu auxiliar e o acompanhará durante o ano letivo?

Penso que estes profissionais deveriam participar da semana pedagógica. Ter cursos que os capacitem a desenvolverem suas funções, com maestria.

Além disso, alguns profissionais da educação precisam aprender a conviver com o diferente, a respeitar as diferenças e principalmente adquirir as habilidades necessárias para trabalhar com a pessoa com deficiência. É triste observar que há professores que afirmam, ano após ano, que não aprenderam na universidade e não sabem como agir diante das necessidades desses alunos.

Caros professores, esse discurso serve para o primeiro ano que você entrou na sala e encontrou um estudante com deficiência. Depois, evite usar a mesma fala, já não cai bem uma segunda vez. Pois você estará dizendo que passou um ano inteiro com aquele ser humano e não fez nada para lhe facilitar o aprendizado.

Pior ainda, você conviveu com ele ou ela e, não aprendeu nada!

Nós que somos mães, não sabíamos nada, quando eles chegaram em nossas vidas. Passamos a gravidez inteira a ter grandes sonhos.

 Os primeiros passos e palavras, o primeiro dia de aula, o ensino médio. Ah! A tão sonhada Universidade…

Então. vem o nocaute.  Seu filho age de forma diferente, tem comportamentos diferentes. A família, na maior parte do tempo acha que você não o está educando da forma correta. Você começa a ir em profissionais da saúde desesperado por ajuda.

E, na maioria das vezes, até você encontrar o especialista certo, encontrará profissionais que sabe tanto quanto você, ou bem pior, que não tem a empatia necessária para lidar com o diferente e nem respeita as diferenças.

Sabe qual a diferença de nós, que somos mães e pais e vocês, profissionais? Nós, embora de coração partido e corpo dilacerado, buscamos todos os dias aprender e não desistimos de nosso filho/ filha.

 Vivemos em uma sociedade que na maioria das vezes é composta por pessoas que precisam rever o conceito de humanização.  Não a teoria, mas as atitudes e as práticas.

Ah! Depois de duas décadas de convívio com meu filho, tenho aulas constantes de gentileza. Ontem coloquei meu pai na cama para dormir e sai do quarto. Ao voltar encontrei a janela fechada, o ar ligado e a luz apagada.

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Carla Fabiane Pantaleão Leite
Carla Fabiane Pantaleão Leite
10 meses atrás

Realmente Cícera temos aulas constantes de amor ao próximo e gentileza, obrigada por mostrar com maestria a realidade de nossas famílias!

Noscilene
Noscilene
10 meses atrás

Boa discussão, Cicera, a educação, gestores e educadores precisam evoluir para entenderem o perfil de cada aluno e trabalharem de modo personalizado. Nao importa a idade, condiçao fisica ou mental, todos podem aprender e ensinar algo a alguém.

Luciana
Luciana
10 meses atrás

Verdade meu filho tem TDAH e escola nunca me orientou em relação passo por muitas lutas por nao ter sido diagnosticado antes

Sonia
Sonia
10 meses atrás

Exatamente Cicera, todo início de ano letivo é um desespero para os pais, e a cada ano as coisas vão ficando piores, hoje, os gestores optaram por terceirizar o serviço, como consequência estão sendo contratadas pessoas sem qualificação alguma(apenas nível médio)para prestar um atendimento que requer o mínimo de conhecimento na área educacional, para poder contribuir com o desenvolvimento dos nossos filhos, é muito triste termos esse desgaste todos os anos, para garantir o mínimo de dignidade as crianças especiais.

Maria De Lourdes
Maria De Lourdes
Responder a  Sonia
9 meses atrás

QUE BOM CICERA QUE ELE TEM VC, EXPERIMENTANDO O DIA A DIA JUNTOS.