Recentemente, uma amiga querida que não vejo há um bom tempo, pois assim como eu, ela está cuidando dos pais idosos, enviou-me um vídeo do Carpinejar que fala sobre a necessidade de adaptarmos nossa casa para o cuidado dos pais. Deve-se se eliminar degraus, tapetes e acrescentar barras, para facilitar a locomoção deles.
Outro item que precisa do nosso manejo constante é o tempo e o espaço, se considerarmos que algumas coisas deixam de ter um horário definido. Como por exemplo, a necessidade de um novo banho, lençóis que precisam ser trocados com frequência, banheiros a serem lavados mais de uma vez por dia.
Objetos como cadeira de rodas e cadeira de banho que você precisa criar espaço para mantê-las, e espaço de locomoção. Um novo espaço é necessário para as fraldas. Afinal mais de 100 fraldas/mês ocupa um espaço significativo.
O armário do banheiro começa a parecer uma farmácia. Pomadas variadas para escaras. A linha completa da Pielsana: sabonete, loção hidratante, gel e o óleo, pois a pele do idoso se torna mais sensível que a pele de um bebê. Precisamos não segurar em seus braços, para evitar hematomas. Sempre que possível ajudá-los a levantar, sentar ou deitar apenas segurando em suas mãos.
Ah, e não se deve esquecer quando eles caem no chão, que é preciso todo o cuidado para levantá-los. Um bom truque é encher os pulmões de ar e prender a respiração, pois isso nos dá uma força extra. E, ao longo dos anos aprendi que meu pai tem ossos ótimos.
Mas adaptar a casa, o tempo e o espaço são coisas relativamente fáceis. Difícil mesmo, é adaptar nosso corpo para lidar com nossas emoções. Considerando que alguns profissionais da saúde, dizem que algumas emoções e sentimentos podem adoecer nossos órgãos. Já pararam pra pensar a montanha russa de emoções que experimentamos ao cuidar?
Sabe aquela fase que eles esquecem tudo? Meu pai está com a xicara do café na mão e exige um café, de forma agressiva pois você ainda não o serviu. Assim como pode exigir um outro mingau, pois na cabeça dele ainda não comeu. E para abrandar a fúria dele nesse momento, é preciso fazer outro, com rapidez. Ele não irá comer, mas é preciso fazer e servir…
Para quem assiste a cena da hora do banho, é uma comédia e dá risadas. Mas para quem dá o banho é quase uma tragédia. Pois, os xingamentos são muitos, as tentativas de bater constantes e, sem contar as inúmeras vezes que ele ensaia parar o banho.
No final do banho, estou descabelada, suada e exausta.
E ele, após ser enxugado, o creme passado em seu corpo e lhe vestir a roupa, sai do banheiro sorrindo como se nada tivesse acontecido. Caso você o lembre do escândalo feito, foi qualquer outra pessoa, menos ele.
O ficar em silêncio é uma tentativa de não entrar em uma discussão inútil que não resolve nada, pois não há argumentos que façam um idoso que gosta de reclamar e xingar parar de fazer isso, se ele não gosta de tomar banho.
Enfim, adaptar a casa é fácil, difícil mesmo é adaptar nosso corpo para viver todas as transformações e mudanças emocionais. Pois o outro que não acompanha sua rotina e não sabe que você ficou a madrugada inteira acordada, precisou dar banho e fazer café fora de hora, espera te ver sorrindo e de bom humor.
Alguns te dirão, ‘te admiro tanto, Deus vai te recompensar. Você terá um bom lugar no Céu’.
O certo seria a ação de cuidar ser compartilhada com toda a família em partes iguais. Pois assim, ao cuidarmos, poderíamos experimentar esta plenitude de Céu aqui na terra, com tempo para nos cuidarmos, descansar e ter vida social.
Afinal o convívio com amigos é um excelente antídoto contra doenças, assim como praticar atividade física, alimentação saudável, lazer, cuidar das emoções e da espiritualidade.
Sem dizer o estranhamento que causa pelo fato do idoso sempre ter sido um pai que não era de bater em seus filhos… e devido a idade e a doença, ter o cuidado de se esquivar das tentativas .
Experimentando ser equilibrista.
As noites mal dormidas nos deixam sem energia para mais um dia de trabalho, de cuidados. Bela reflexão.
O equilíbrio emocional depende de aprendermos a cuidar da gente e respeitar nossos limites.
“O certo seria a ação de cuidar ser compartilhada com toda a família em partes iguais. Pois assim, ao cuidarmos, poderíamos experimentar esta plenitude de Céu aqui na terra, com tempo para nos cuidarmos, descansar e ter vida social.” Exatamente isso, até para que quando a pessoa cuidada nos deixar, já estarmos preparados e sem remorsos , por termos feito a nossa parte.
Essa compreensão é fundamental para todos os familiares.