No limite da exaustão, faça-se ouvir…

Como sou cuidadora sei que às vezes gritamos alto, muito alto. Mas no lugar errado. Embaixo do chuveiro, pois o barulho da água encobre nosso choro, ou enfiamos a cara no travesseiro e gritamos.

 Essa situação lhe é familiar?

Tenho certeza que sim.

Afinal como dizer para o outro que não está na nossa casa todos os dias e não faz ideia das pequenas coisas que acontecem, a forma como elas impactam o nosso cotidiano E, como vão minando nossa energia e esperança! Até porque, como podemos dizer que cuidar de nosso filho a quem doaríamos nossa vida, está nos exaurindo?!

O que os outros vão pensar?

Imagina dizer que estamos exaustos por estar cuidando do pai ou da mãe. Que egoísmo! Afinal a eles devemos nossa vida.

O que os outros vão pensar?

Aprendi na prática que o que outro vai pensar não importa. Pois a única forma de cuidar das pessoas que amamos com qualidade, amor e respeito é também e primeiramente, cuidar da gente.

Ao invés de chorar embaixo do chuveiro ou gritar para o travesseiro, utilize toda essa energia e reúna a família para deliberar novas formas de cuidar. E não tenha medo de alguns membros ficarem chateados.

Sabe por quê?  Antes de passar alguns dias cuidando, ninguém tem noção da atenção plena que quem está sendo cuidado precisa. Ou do efeito causado por uma noite em que você tenha seu ritmo de sono alterado. O quanto no outro dia, seu rendimento é prejudicado. Ou quanto o efeito de várias noites mal dormidas, interferem no nosso humor.

Percebam que após eles experimentarem, há várias possibilidades… Alguns se tornarão mais solidários, aparecendo mais vezes para ajudar… também terá aquele que perceberá que cuidar não é a praia dele. Porém, ao ser convocado se disponibilizará a pagar um cuidador, pois compreendeu que, o ato de cuidar pode cansar como qualquer outra atividade.

Entretanto, leva-se um longo tempo para que todos percebam que precisam ajudar. Outros vão fazer de conta que tudo está bem. Por isso, é preciso ter a coragem de falar e falar e não perder a esperança de ser ouvido(a).

Caro leitor, caso nesse momento você esteja cuidando e se sentido sobrecarregado, pela ausência dos familiares, não se iluda, achando que eles vão chegar e se oferecer para passar um final de semana cuidando. Lembre-se, embora todos possam ver, temos a tendência de enxergarmos só o que queremos.

Então porque o outro vai se comprometer?

 Afinal a casa está limpa, a pessoa cuidada e alimentada. Suas olheiras podem estar visíveis, a raiz de seus cabelos com um centímetro branco. E daí. A única coisa visível será um certo descuido com a sua aparência.

E, caso seja aquele filho ou filha que aparece de vez em quando para uma visita rápida, a você ainda será ordenado que: faça um cafezinho da hora e sirva com bolinhos de chuva ou pão de queijo…

Não se irrite, pegue a chave do carro e saia. A outra pessoa sabe onde está o pó de café, caso ela realmente queira tomar um cafezinho da hora. Essa é a oportunidade perfeita para você ter uma pausa e descansar.

Ah! Não tenha pressa para voltar. Há quanto tempo você não olha as vitrines, observa um pôr do sol ou visita uma amiga?

Somente com pausas para descansar, você estará inteiro e na paz necessária para realizar o cuidado com amorosidade. Lembre-se nosso estado emocional torna-se visível através dos nossos cinco sentidos.

Portanto, você que é cuidador nunca se esqueça que, os mesmos cuidados que a pessoa cuidada precisa, você também precisa. Mas as outras pessoas não sabem. Então aprenda a dizer quais são suas necessidades, com firmeza e mansidão.

Cuidadores, vamos esperançar…