Viver em Plenitude

O título do meu texto é uma frase do livro da Drª Ana Claudia Arantes, “Pra vida toda valer a pena viver: Pequeno manual para envelhecer com alegria”. Com frequência falo sobre envelhecer, pois há muitos anos acompanho o envelhecer do meu pai e o aparecimento de algumas doenças que deixam sua vida ainda mais debilitada e limitada.

Mas acredito que até os 70 anos, ele tenha experimentado dessa plenitude de que fala a autora, pois fazia coisas que o deixavam feliz e que eram realizadas com alegria.

Quando digo algumas, se deve ao fato do conhecimento de que, ou por não ter tido oportunidade, ou por falta de percepção, meu pai não parou para pensar a velhice. Nem na perspectiva financeira, nem da saúde e, menos ainda sobre a solidão.

Sabe o que é triste? De uma certa forma observo que segui os passos de meu pai. Claro que terei uma aposentadoria mais confortável, talvez possa manter um plano de saúde, mas infelizmente, financeiramente não amealhei os recursos financeiros para ter uma velhice mais tranquila. Considerando que tenho um filho que precisa ser cuidado, eu precisava ter um bom lastro financeiro que me permitisse pagar cuidadores na velhice, ou uma boa casa que abrigue idosos.

Portanto, você e eu que já vivemos meio século de vida, está na hora de começarmos a pensar o que será necessário para atravessarmos o deserto? Pois a velhice pode ser tão árida, quanto a vida no deserto.

Você e eu vivemos em plenitude todos os momentos da vida? Ou por medo e insegurança, deixamos de fazer o que queríamos? Até mesmo pela frase tão conhecida, “o que os outros vão pensar?

Na velhice nossa melhor companhia serão as lembranças. Já pensou se elas não forem boas? Ou arrependimentos, por tudo aquilo que não fizemos?

Está na hora de você e eu começarmos, se ainda não tivermos feito isso, a colecionarmos momentos felizes, com a família, com os amigos e viver cada segundo de vida, com intensidade, e se possível ajudando o próximo. Pois, ao envelhecermos, torna se difícil tomar decisões, ou fazer com que as mesmas, sejam acatadas. Serão os adultos que decidirão por nós, e muitas vezes sem levarem em conta a nossa opinião.

Outra situação delicada, à medida que o tempo passa e as doenças aparecem, nem sempre temos médicos qualificados para nos atender. Faltam medicamentos adequados e condições financeiras para bancar os tratamentos necessários. O número de médicos que têm conhecimento sobre o processo de envelhecimento é insignificante.  

 E, em nenhum canto do País vemos nossos representantes políticos, a pensarem políticas públicas, voltadas para este público, que no momento é uma fatia da sociedade, em franco processo de expansão.

Já estamos vendo idosos cuidando de outros idosos. Houve uma época, em que na sociedade o idoso ocupava um lugar de respeito, pois ele era o detentor do conhecimento, às vezes era convidado a contar histórias do passado. Esse espaço atualmente é ocupado pelo Dr. Google.

Então quando eu questiono a falta de Políticas Públicas, é porque na experiência diária vejo como é gritante a necessidade de mudanças. É preciso ter espaço, mas também é preciso pensar que atividades proporem para estes idosos, que deem significado a suas vidas.

Como inserir arte e diversão na vida dos idosos?  Eles não necessitam só de comida e bebida. Os mesmos querem sair de casa, para passear.

 Qual a alegria de ir ao banco ou ao INSS, apenas para provarem que estão vivos?  E as idas aos consultórios médicos, para os quais são levados por necessidade. Aos hospitais públicos, só quando não há mais alternativas de tratar em casa, especialmente se considerarmos que as filas são imensas.

Como orientar as famílias nesses cuidados? Como netos e avôs e avós, bisavôs e bisavós podem se divertirem juntos.

Talvez pudéssemos unir a habilidade das crianças com a tecnologia e as histórias de vida dos idosos. Existe a necessidade de criarmos atividades para explorar as lembranças do passado e ressignificar os conhecimentos adquiridos.

Nesse momento, que você e eu estamos começando a envelhecer, é importante estarmos sempre aprendendo coisas novas, para manter nosso cérebro e corpo saudáveis, Assim como atividades físicas e exames que possam detectar o avanço de doenças mais graves.

Outra realidade bem complexa é quando nossos pais se tornam agressivos. Pois ao mesmo tempo que cuidamos e amamos, também sofremos com palavras ofensivas e agressões físicas. São realidades difíceis de serem compartilhadas. Em nenhuma lembrança da infância, lembro de ter levado um único tapa de meu pai, e agora preciso de agilidade para escapar dos murros.

Outra situação bem delicada é conseguirmos partilhar com todos da família o ato de cuidar, pois, sempre têm aquele que tudo em sua vida é mais importante. Ou quando concordam em ficar com seu pai, ou sua mãe e na última hora informam que não podem mais, pois tem outro compromisso, surgido de repente, mais urgente e muito, muito mais importante.

Você e eu sabemos o quanto é difícil ficar brigando com irmãos, mas chega uma hora, em que, esgotados todos os recursos e feitas as últimas tentativas, a única alternativa é judicializar os cuidados. Quando for necessário vá em frente, pois a responsabilidade de cuidar é igual para todos os filhos. Não é apenas sua.

Viver em plenitude, também é saber, dividir as responsabilidades do cuidar.

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Kelem Cristina de Sene Santos
Kelem Cristina de Sene Santos
2 anos atrás

A falta de parceria na própria família é uma das coisas que mais pesa para quem cuida. E quem cuida acaba doente também por falta de possibilidades de se cuidar.

Cristiane Maciel Mendes
Cristiane Maciel Mendes
2 anos atrás

Muito bom!

Rosemar
Rosemar
2 anos atrás

E esse é o nosso fim vai depender do que aprender