IV Conferência Estadual de Saúde Mental: direito de todos?!

Na IV Conferência de Saúde Mental de Mato Grosso, realizada nos dias 25, 26 e 27 de maio de 2022, com representantes de vários municípios, compostos por trabalhadores da saúde, prestadores de serviço, governo  e usuários, foi possível perceber a diversidade dos povos que compõem o estado de Mato Grosso e as dificuldades enfrentadas em cada região quando o assunto é saúde e mais especificamente, saúde mental.

Para atender a todas as pessoas, respeitando a individualidade de cada uma e as dores que todos vivenciam, por receberem um atendimento de Saúde Mental, que não está adequado com suas necessidades, pois os órgãos que devem oferecer estes atendimentos, nem sempre têm os profissionais adequados. Ou quando têm não é suficiente para atender toda a demanda existente.

Em especial hoje, quando a sociedade lida com o aumento de casos de transtornos mentais no contexto pós-pandêmico e, ainda, diante de muitos casos de agressão relatados pela mídia, envolvendo escolas, onde crianças e adolescentes têm apresentado crises coletivas de pânico, de ansiedade e de agressões.

 E, também a atuação de policiais, muitas vezes despreparados para lidar com pessoas que apresentam quadros de transtornos mentais e, às vezes elas ficam vagando pelas ruas ou então em abordagens comuns, que por vezes se tornam tragédias. Como lidar com essas situações?

Durante os três dias foram debatidos temas pertinentes às mudanças que desejamos e as que se fazem necessárias ao atendimento da Saúde Mental com qualidade e equidade para todos:

• Formulação da Política Estadual de Saúde Mental e o fortalecimento dos programas e ações de Saúde Mental para todo o território Estadual;
• Cuidado em Liberdade como garantia de direito à cidadania;
• Política de saúde mental e os princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade;
• Gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; e,
• Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia.

Participei deste evento representando a categoria de usuária. Como filha, tenho um pai idoso de 95 anos, que teve AVC a 25 anos e durante todos esses anos precisei do atendimento do SUS e, como mãe, pois tenho um filho de 19 anos que tem Síndrome Doose e Espectro Autista.

 Confesso que ao longo dos anos vivenciei momentos de alegria e tristeza com o atendimento recebido, mas nos dias atuais a frustração tem aumentado. Por isso, recentemente tenho ido com frequência à Câmara Municipal e participado de reuniões com vereadores, secretárias de Saúde e de Assistência Social e a prefeita de Cáceres.

Faço parte do grupo de mães de filhos com espectro autista e estamos tendo muita dificuldade para que nossos filhos tenham médicos, terapias e medicamentos adequados as suas necessidades e especificidades. É preciso mais profissionais que tenham não só a formação técnica, mas o olhar mais humanizado e empático para o paciente e para nós, suas famílias.

Portanto, quando surgiu a oportunidade de participar da Conferência de Saúde Mental em meu município participei e me candidatei a ser delegada na Conferência Estadual. Nesta participei mais uma vez da votação, para participar da Conferência Nacional em Brasília, por acreditar que não podemos apenas reclamar ou desistir frente a falta de políticas públicas que nos atendam e aos nossos entes queridos.

Porém, é preciso termos informações e conhecimento sobre nossos direitos e se possível ajudarmos na construção e reformulação dos mesmos, quando estes não estiverem atendendo a necessidade de nossos filhos e da sociedade como um todo.

Todas as vezes que estamos juntos na construção de direitos para todos, torna-se possível criarmos condições para que nossas individualidades sejam respeitadas e possamos receber um tratamento mais humanizado para mim, para você, seus filhos e seus pais.

E, o mais importante, sem mendigarmos favores a nossos representantes políticos ou ainda que não tenhamos que recorrer a meios judiciais, para conseguir uma consulta, um medicamento. É um direito meu e seu. Portanto, convido você: Vamos juntos construirmos uma Saúde Mental com qualidade para toda a sociedade?

Na oportunidade quero agradecer minhas amigas de Cáceres, também representantes de usuários que participaram da Conferência me apoiaram e votaram em mim e a todos os representantes dos municípios da região Oeste: Cáceres, Mirassol D’ Oeste, São José dos Quatro Marcos, Araputanga, Pontes e Lacerda, Reserva do Cabaçal, Lambari D’ Oeste, Rio Branco, Campos de Júlio etc.

Vou honrar cada voto recebido e lembrar de todas as dificuldades que eu e você enfrentamos quando precisamos de atendimento para nós, nossos filhos e pais. Tenho esperança de melhoras no atendimento da Saúde Mental de todo o estado de Mato Grosso, após a Conferência Nacional.

Na oportunidade quero parabenizar os organizadores da Conferência Estadual e agradecer ao município de Cáceres, por ter contribuído com a nossa participação.

Para finalizar lembro ainda que quando se trata da saúde mental, o cuidar torna-se ainda mais desgastante. E quem cuida precisa ser cuidado, na mesma proporção de quem recebe cuidados.