A Mãe Fora do Eixo
Há mães que gritam. Mas só por dentro.
Existe um tema que quase nunca aparece quando falamos de autismo.
Não porque ele não exista — mas porque dói demais admitir.
A desregulação da mãe.
Fala-se muito da criança em crise.
Pouco se fala da mulher que perdeu o eixo da própria vida tentando sustentar tudo sozinha.
A mãe atípica aprende cedo a vigiar sinais, antecipar colapsos, adaptar o mundo.
O problema é que, nesse processo, muitas vezes ela deixa de se escutar.
Quando o corpo não dorme.
Quando o pensamento não descansa.
Quando a rotina vira sobrevivência.
Isso também é desregulação.
E ela não acontece de repente.
Ela se instala aos poucos, normalizada pela ideia de que “é assim mesmo”,
de que “mãe aguenta”,
de que “depois passa”.
Mas não passa.
Uma mãe desregulada fala mais alto do que gostaria,
perde a paciência que jurou proteger,
reage no automático,
e depois se culpa — em silêncio.
O que quase ninguém diz é que criança no espectro sente o ambiente antes das palavras.
A tensão no ar.
O ritmo quebrado.
O corpo da mãe fora de compasso.
Não, não é a mãe que causa a crise.
Mas quando ninguém cuida de quem cuida, o mundo inteiro entra em risco.
Admitir que se perdeu o controle da própria vida não é fracasso.
É um pedido de ajuda que precisa ser ouvido — não com julgamento, mas com braços.
Cuidar de uma criança atípica exige técnica, sim.
Mas exige, sobretudo, cuidado coletivo com a mulher que sustenta o cotidiano.
Enquanto a mãe precisar ser forte o tempo todo,
a regulação continuará sendo exigida apenas de quem já está no limite.
E quando uma mãe quebra, não é fraqueza.
É o corpo a gritar por um cuidado que o mundo esqueceu de lhe dar.
Se ela segura o mundo com as mãos, que alguém, enfim, segure as dela.
Se este texto falou contigo ou por ti, partilha.
Porque talvez outra mãe esteja a gritar por dentro agora — e precise saber que não está sozinha.


Realidade descrita em detalhes!
Parabéns pelo texto