[Foto de cacho de flores de ipê-rosa com raios de sol atravessando as folhas – símbolo de resistência no mês de agosto]
Em agosto, as flores rosas do ipê rompem o cinza da seca.
Como nós — que também florescemos na resistência.
Este é o nosso verso.
Somos Mais Lilás
Somos mais, somos muitas,
mais feridas, mais sabidas,
mas a luta não termina,
segue em trilhas repartidas.
Ser maioria não basta,
se o poder fecha as saídas.
Na política masculina,
na justiça que nos atrasa,
na cultura patriarcal,
na linguagem silenciosa,
mas nos rasgamos o cinzento,
com um broto cor-de-rosa.
Nos ensinaram desconfiança,
a calar pra ser “mulher certa”,
a culpar a própria vítima,
a trancar a porta aberta.
Mas o coro se refaz
quando a dor vira tambor,
e o silêncio ganha voz
e o medo perde cor.
A violência se camufla
sem deixar marca na pele:
no salário que não chega,
na senha que nos repele,
na piada que nos cala,
no afeto que nos fere.
Mesmo poucos, os homens
seguem a mandar na história:
fazem leis, julgam processos,
controlam nossa memória,
decidem o que é piada,
o que vira riso ou glória.
Mas algo já se levanta,
tecido em nossas alianças:
cada escuta é uma fresta,
cada verso — esperança.
Somos mais, somos lilases,
nossas dores — sementes.
E se o número isolado
não faz força nem nos guia,
o punho que nos oprime
há de tremer um dia:
quando o grito for coro
e o lilás, poesia.


Olá Cicera, gostei de seu pensamento aqui descrito. Pois é. Cuidem-se, somos muitas. As vezes com os mesmos instintos aflorados, dores que chegam sem avisar, amores vividos e revivido, e de vez em quando o olhar aparece no impenetrável ” amor escondido”. Sempre assim. Aguardando o próximo. Abrs
Um abraço para você também.