Dizem que os sete pecados são fraquezas.
Eu discordo.
Eles são sintomas — sinais de que algo em nós está pedindo escuta.
Durante anos, confundi amor com sacrifício.
Acreditei que cuidar dos outros exigia esquecer de mim.
Ser forte, para mim, era não parar nunca.
Até que o corpo travou.
Num dia qualquer, não consegui sair da cama.
Chorei no mercado, sem motivo.
Pedir ajuda foi a única coisa que consegui fazer — e, ao mesmo tempo, a mais difícil.
Foi aí que compreendi:
o maior cuidado é aquele que se oferece a si mesma.
E esse cuidado começa com consciência — não com fórmulas, não com culpa, não com exigência.
Mas como cuidar de si quando o que sentimos é raiva, culpa, apatia?
Foi então que percebi:
ganhar consciência é, também, uma forma de cuidar.
Os sete que habitam
Os pecados capitais — esses nomes antigos, duros, cheios de culpa — escondem dores humanas.
Pedidos silenciosos. Verdades encobertas. Veja só:
- Gula: mais do que excesso — uma fome de colo, de presença.
- Avareza: não apego — medo de perder o que nunca se teve inteiro.
- Luxúria: não devassidão — um desejo de toque, com medo do julgamento.
- Ira: não fúria vazia — um grito preso por anos.
- Inveja: não feiura — apenas um espelho embaçado, no qual deixamos de nos reconhecer.
- Preguiça: não falta de vontade — um corpo exausto que só quer repouso.
- Soberba: não arrogância — uma armadura brilhante que encobre feridas mal cicatrizadas.
Esses sete não são falhas. São camadas. Histórias não contadas. Desejos engolidos.
E todos pedem o mesmo: olhar mais terno, escuta mais honesta, cuidado que começa por dentro.
Reconhecer é cuidar
Nomear essas sombras não nos faz pecadoras.
Nos torna lúcidas.
E quem vê com lucidez pode escolher com liberdade.
Cuidar não é mais um dever.
É um gesto de presença.
Um recomeço íntimo.
Travessia possível
Este texto é o início de um caminho — que talvez vire livro.
Por enquanto, é só um convite.
Se tu também sentes esses sete a sussurrar dentro, escuta.
Não com culpa.
Com carinho. Com coragem. Com consciência.
Quais desses sete também te habitam?
E o que eles estão tentando dizer?


Acredito que todos carreguemos dentro de nós esses sete pecados. Só nos falta “tempo” e coragem para assumir que eles fazem parte de nós e reagir, sair da aparente apatia que nos toma…