Eu Já Não Sabia Mais Sonhar

Ficar uma semana fora de casa não deveria ser algo tão grande. Mas, para uma mãe atípica, é.

Antes de fazer as malas, fiz mapas. Quem cuidaria do meu filho de manhã? Quem dormiria com ele à noite? A vizinha se dispôs a ficar durante o dia. Uma amiga assumiu as noites. Ainda assim, o coração pesava. Não era culpa — era o zelo de quem sabe que nem todo mundo percebe os detalhes, os ritmos, os sinais.

Fui para Cuiabá fazer um curso. Precisava ir. Não dava para adiar. Levar meu filho era impossível.

E foi nessa mesma semana que participei de uma palestra na Câmara Municipal de Cuiabá, promovida pela vereadora Maysa Leão. O auditório era todo nosso: mães atípicas. A palestrante, Alessandra Ciuffo, do Sebrae de Brasília — também mãe atípica — falou com a precisão de quem vive o que diz:
“Somos a ponte entre o céu e a terra. Ninguém chega aqui se não for por nós. Somos portais.”

Houve quem chorasse. Houve quem apenas respirasse fundo, como quem lembra que ainda está viva.

Uma mãe, com voz firme e olhos cansados, disse algo que me atravessou:
“Teve um momento em que eu já não sabia mais sonhar.”

E eu entendi. Porque já estive nesse lugar — o lugar em que a gente se apaga.

Mas naquela manhã, em meio a tantas histórias, uma certeza emergiu:
Sonhar é possível — desde que não seja solitário.

Minha rede de apoio me sustentou nesta semana. Simples, mas suficiente.

E descobri:
Que meu filho pode estar bem com outras pessoas.
Que posso sair, aprender, rir, conhecer outras mães.
Que posso respirar um pouco mais.

Descobri também que o que nos sustenta já não é a vigilância constante, mas a certeza de que eles estão felizes.

Só que isso ainda não basta.

Precisamos de mais do que força individual. Precisamos de políticas públicas. Precisamos garantir que, ao chegar à juventude e à vida adulta, nossos filhos tenham o direito de pertencer ao mundo.

Com equidade.
Com dignidade.
Com presença real na vida social e cultural da comunidade em que vivem.

Porque sim, nós — mães — podemos ser portais.
Mas nossos filhos não podem viver como estrangeiros depois que atravessam o nascimento.

Eles também pertencem.

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REJANE
REJANE
13 dias atrás

É muito importante essa mudança de olhar sobre Pedro.