Oi pai,
Por aqui foi uma semana atípica, levei seu neto Pedro Henrique apenas no final do seu velório e talvez a única coisa que ele não vá me perdoar é por não ter realizado uma missa de corpo presente. Confesso que não consegui pensar no assunto em tempo. Mas estou tranquila em relação a isto, afinal o senhor nunca foi muito chegado a ir em nenhuma igreja, quando tinha total controle sobre todos os seus atos e ações.
Então não era no final da sua vida, quando o senhor não podia escolher, que eu iria lhe impor qualquer religião. Talvez, ter convivido ao longo da vida todos os seus SERÁ, tenha contribuído para o meu ceticismo. Mas Pedro Henrique quando chegou em nossas vidas há 21 anos, trazia dentro de si a igreja católica, todos os seus dogmas e santos. E uma pitada de fé, que até então, nenhum membro da família tenha vivenciado.
Na segunda-feira de manhã fomos a catedral para marcar uma missa de sétimo dia. E Pedro deixou claro a necessidade de uma lembrancinha para entregar no final da missa. E sua bisneta Larissa ficou encarregada de providenciar.
Durante a semana, doei os seus pertences que poderiam ser úteis para outras pessoas, ao separar os objetos encontrei um apito, impregnado de memórias da minha infância.
E chegou quinta-feira o dia da missa. Fui e o único pensamento que me ocorreu aquele era o meu último compromisso com o senhor, além é claro de estar atendendo as exigências de seu neto. Portanto não tinha nenhuma expectativa. Mas neste momento que escrevo, meu agradecimento se estende desde o pessoal da limpeza, a equipe responsável pela celebração do dia e ao padre.
Quando a missa começou, a voz do moço que estava cantando era acolhedora e aconchegante, havia um altar com o ostensório e, de cada lado a imagem de um anjo e flores amarelas que traziam alegria e harmonia. Era belo de se ver. Claro que quando o dirigente leu errado o seu nome, meu primeiro impulso era de corrigi-lo. Ainda bem que o padre pronunciou seu nome corretamente.
Gostei da homília, algo raro de acontecer. E nesse mar de emoções confusas e relações líquidas de que falou o Padre, acredito que você pai pegou a prancha certa e está aí no céu surfando ondas incríveis, junto a familiares e amigos que já tinham partido. E falando muito, lembrando as travessuras da infância.
Afinal depois de 28 anos sem falar, há tantas histórias a ser contadas. Ou talvez o senhor, tenha aprendido a importância do silêncio e agora esteja a deslizar em sua prancha por ondas tranquilas, apenas ouvindo o som do mar e o canto dos pássaros.
No dia 30/08/2024, uma sexta-feira à tarde, o senhor partiu em um mar calmo e tranquilo, com surfistas alados a lhe fazer companhia. Pois suas últimas respirações foram tranquilas, sem nenhum grito ou gemido. Mergulhastes para a nova etapa de sua vida com coragem e harmonia..
E até nós encontrarmos de novo, algo que vai demorar muito, pois pretendo passar um longo tempo aqui com Pedro, afinal ele também precisa de cuidados. Que Jesus ilumine seus passos e seja sua fortaleza.
Cicera eu perdi minha mãe dia 29/08 /24 também, e como este texto me conforta.! Gratidao.
Cicera Querida…a leveza das suas palavras tornam a passagem do seu paizinho bem natural … tranquila…realmente vc cumpriu a sua missão como filha amorosa (e inuneros adjetivos poderiam ser diros aqui) durante todos esses anos.Como a Admiro a cada dia mais. Recebam o meu Abraço fraterno…
Ao receber a notícia fiquei meio sem reação… o que pude externar foi através da pergunta : Está precisando de algo? Depois de tanto tempo que perdi meus pais ainda não sei lidar com essas emoções e não consigo ir em velórios. Na missa também gostei da homília…já tinha um tempo que não ia. Que o Sr Elírio descanse na paz do Senhor Jesus.
Meus melhores sentimentos, querida. E tão serena quanto essa carta ao seu paizinho, que ele esteja descansando na Paz sagrada do Divino que trazemos em nós. Abraço fraterno.
Cícera, seu pai cumpriu a missão dele aqui na terra e você cumpriu a sua missão de filha: cuidou, zelou, acolheu. Que Deus receba seu pai com os braços abertos. A saudade será muito grande, tenho certeza porque estou vivendo essa realidade, mas aos poucos o coração vai se acostumando a essa nova realidade. Abraços fraternos.
E como foram anos e anos de presença… você cumpriu com sua missão em relação à sua família. Que Pedro também tenha o melhor de você…