Atacar com os punhos e defender, ou seja, lutar. Esse apelido meu pai ganhou na última quarta-feira na UPA – Unidade de Pronto Atendimento. Espaço que ele tem ido com frequência. Após a liberação, o motorista da ambulância e o maqueiro foram pegá-lo para levar pra casa, pois já estava de alta.
O motorista olhou pra ele sorriu e disse: é o Boxeador. Rapaz cuidado. Ele bate duro.
Parou, observou meu pai por alguns segundos. Como é que pode? Ele está tão acabado e tem tanta força.
Todas as vezes que vamos alimentá-lo ou realizar sua higiene pessoal fazemos a mesma pergunta.
De onde vem a força?
Em sua ficha no hospital constava: senilidade + sarcopenia + neurosequelado.
Acredito que a força venha da necessidade inata que nós seres humanos temos de nos comunicarmos.
A habilidade de fala ele perdeu há muito tempo, 28 anos. E é muito tempo para se adaptar em um mundo em que, na maioria das vezes, todos falam.
Vejo o bater de meu pai como último recurso de se expressar. Não é fácil estar cuidando e apanhar. Cada tapa, beliscão e puxão de cabelo, vem acompanhado de imenso espanto. As vezes dor e pranto. E de raiva também. Sou humana. Mas também é o humano em mim, que permite vislumbrar a imensa dor contida em meu pai. Tento adivinhar o não dito, às vezes rimos de suas caretas. E tenuamente, com muito raridade vislumbramos um pequeno sorriso em seus lábios. Nesses momentos percebo resquícios da essência de meu pai. E tento ler os textos mudos que se apresentam em seus olhos.
Agradeço ao moço que lhe deu o nome de Boxeador. Afinal em sua adaptação que dura anos, ele está a demonstrar sua força.
Apanhamos, mas nesse ato de boxeador ele golpeia a própria dor. Afinal qual pai bate num filho e a dor não reverbera em sua alma?
Nesse dia especial quero expressar minha gratidão por você ser meu pai, e por todas as oportunidades que tenho de me tornar um ser humano melhor no convívio contigo e por ter me dado o mais belo dos presentes: A Vida.
Feliz dia dos pais, meu pai, Elírio Alves Feitosa.
Esse boxeador faz parte da minha história através da nossa amizade e tive o privilégio (e o medo da braveza rsrsrsrsr) de conhecer seus dias áureos.
Parabéns amiga!
Pelo texto…
Pela filha amorosa e dedicada que é…
Por cumprir fielmente sei dever filial!
Te admiro.
Que lindo seu texto e história de vida.
Parabéns prof. Cícera! Só mesmo uma guerreira como você para nos brindar com esta reflexão. Penso que todos filhos deveria ler e meditar nas palavras e na linda imagem deste texto.