Estou vendo as estrelas…

Há dias tentava encontrar uma atividade memorável para Pedro, afinal em breve ele fará vinte e um anos. Pensei em uma viagem, mas os preços me desanimaram.

E no meio dessa busca, por algo que fosse incrível para ele, recebi um convite de uma amiga para acampar no final de semana. Na hora uma luzinha acendeu em meu cérebro: “Eis algo que Pedro nunca fez!”. Aceitei sem pensar. Maria Antônia, que ouvia nossa conversa disse que havia uma barraca disponível. Precisaria apenas dos colchonetes.

Na sexta-feira, deixei meu pai na casa de minha irmã que mora em Cáceres. E avisei para minha irmã que mora em Lambari D’Oeste, que passaria o final de semana num lugar, sem internet. Pois se ela descobrisse que estávamos acampados na beira do rio ficaria preocupada.

Pedro estava na maior empolgação, afinal íamos acampar com pessoas que ele já conhecia, na verdade há tempos já me considero agregada da família. O principal fator, todos tratam Pedro com respeito, escutam suas histórias reais ou inventadas com a mesma atenção. E, a presença de pessoas jovens.

Chegamos na Bahia Negra, uma paisagem linda, uma grama verdinha, em alguns lugares, focos de uma planta rasteira cheia de flores amarelas, com a luz do sol sendo refletida nas pétalas.

Nossas barracas foram montadas sob um aglomerado de árvores, próximo às margens do rio e a imagem de duas mesas rústicas de madeira compondo o cenário, já indicava que ali é o lugar preferido das pessoas ficarem.

Chegamos na hora do almoço, um arroz carreteiro delicioso, que levamos pronto. Uma festa. Pedro a conversar com todo mundo. A Nádia não conhecíamos, ela tem uma filha de dois meses, Isis, linda e que nos brindava com lindos sorrisos ao conversarmos com ela. Em pouco tempo ela percebeu o hiper foco de Pedro e conversaram muito sobre a igreja e santos. Ela é uma católica praticante.

Tentei pescar, mas cansei de alimentar os peixes e fui para a água, junto com o resto da galera e Pedro. Antes de entrarmos na água, os rapazes delimitaram até onde podíamos ir que era raso.

Ao entardecer, nós, as mulheres fomos até a casa para tomarmos banho. Fomos acolhidas com gentileza e um convite para voltarmos quando quisesse.

À noite, a janta foi um sopão feita pelos homens. Eu, cansada fui deitar, não consegui levar Pedro para a barraca. Ele só foi quando todos decidiram que era hora de dormir. Ao entrar na barraca, 11 horas da noite, queria tomar um banho. ‘Filho é impossível’. Por um momento cheguei a me preocupar, pois em casa sempre toma banho na hora de dormir. Então ele deitou e dormiu

De madrugada Pedro mudou o travesseiro de lugar. Ao perguntar o motivo, sua resposta me deixou sem palavras: ‘estou vendo as estrelas’. Olhei para ele, em estado de pura contemplação, deitado, cabeça sobre as mãos a olhar para um pedaço de céu estrelado que se sobressaía entre as folhas das árvores. Ao montarem nossa barraca, deixaram-na sem teto, pois não havia indícios de chuva e estava muito quente, o que possibilitou a Pedro a chance de viver esse momento de puro encantamento.

No dia seguinte apreciei o sol nascendo, o canto e a revoada dos pássaros. Dois rapazes madrugaram para andar de caiaque. Entre o café da manhã e o almoço, alguns andaram de barco, outros pescaram, ou tomaram banho e outros ficaram sobre às árvores a papearem.

Após o almoço voltamos para casa, repletos de um cansaço bom e recarregados de uma energia que a natureza doa de forma generosa, para todos nós.

Foi também uma experiência de cuidados coletivos. Dona Antônia, a anciã da turma e Nádia com sua bebê foram dormir na casa. Vale lembrar que conviver com pessoas amigas e felizes, proporciona alegria e permite mantermos um sorriso no rosto e ao mesmo tempo, nos tornamos mais acolhedores e gentis.

Querem saber se Pedro gostou de acampar? Sim! Tem perguntado para Vera todos os dias: ‘Quando vamos acampar novamente?’

Para todas as mães e pais que temem atividades assim com seus filhos atípicos, aconselho a manter amizade com pessoas humanizadas e, tenham coragem, vá na fé que tudo vai dar certo e, não se apeguem às pequenas coisas que derem errado. Guarda no coração o som das risadas de seu filho(a). Elas apagam qualquer perrengue.

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Nair Vendramini de Campos
9 meses atrás

Grata Cicera, tudo bem, amei pois sua vida e de seu lindo e amoroso filha é uma maravilha. Deus abençoa você sempre é admirável seu trabalho. Beijos!!!

Carla Fabiane Pantaleão Leite
Carla Fabiane Pantaleão Leite
9 meses atrás

Cícera, que lindo passeio descrito dá para sentir a alegria do Pedro nas entrelinhas, que Deus abençoe e que outras experiências como essa sejam sempre possíveis. A Heloísa ama atividades como essa ela é atentada as riquezas de Deus 🙏

Sonia
Sonia
9 meses atrás

Parabéns Cicera pela coragem de fazer diferente, de mostrar para o Pedro a imensidão do mundo, e como o Pedro é um rapaz de sorte.