Com frequência recebo mensagens de pessoas que dizem não aguentar mais cuidar do pai ou da mãe sozinhas. “As pessoas da minha família não me ajudam”. Ou mães que também reclamam dos pais que não se envolvem na ação de cuidar do filho(a) com deficiência.
Também há uma reclamação clássica na qual eu me incluo. Como eles(a) não percebem que eu também preciso ser cuidada?
Eu sempre contei com o apoio da minha irmã, que também é minha madrinha. Entretanto com o avançar da idade percebo que ela também precisa de cuidados.
Portanto estou como a maioria de vocês que é cuidador(a), precisamos de cuidados e parece que nossas necessidades estão invisíveis. Pois ninguém percebe ou finge não perceber, pois assim não se faz necessário agir.
Como foi que chegamos a esta triste realidade?
As opiniões são várias e, entre elas: “Larga tudo e vai embora”.
Confesso que gosto muito dessa. Mas como posso abandonar meu pai e meu filho.
Outra muito boa. “Pare de cuidar da vida de todo mundo e vá viver a sua vida”.
Há muito tempo que não tenho nenhum interesse pela vida do outro, porque cuidar da minha não é fácil. Acredite, quando cuidamos do outro, vinte quatro horas por dia, não sobra tempo nem para saber quem é o vizinho do lado ou como é vida dele.
Outra pérola. “Ao cuidar, mesmo que ninguém te ajude, você se tornará um ser cheio de luz”.
Também não me convence, não tenho a vocação nem de Madre Tereza de Calcutá, nem de Santa Irmã Dulce. Na verdade, o cansaço excessivo nos torna cheios de dores, rabugentos, reclamões e estafados. Algumas vezes, só caímos a ficha quando vamos parar na UPA.
Sem contar as quantas vezes em que ouvimos que estamos estressados e que precisamos nos acalmar, ou ainda, quando ouvimos que não temos motivos para ficarmos nervosos.
Como sair desse ciclo de cuidados com os outros e nenhum cuidado para nós?
Primeira coisa, acabe com a ilusão de que um dia alguém fale, tire uma semana de folga, que eu fico no seu lugar. Acredite isso nunca acontecerá.
No dia que você quiser dez dias, vão sugerir a você que reduza para cinco, ou que nem saia.
Outra coisa ninguém verá que você está exausto(a). Sabe por quê? Só enxergamos o que queremos ver.
E a maior das nossas ilusões, querer que o outro adivinhe o que precisamos, o que queremos, sem nunca termos dito isso com clareza.
Por que o outro perceberá quais são suas necessidades, se isso implicará em responsabilidades que ele não está afim de ter e fazer?
Portanto, se você começará a ser cuidador agora, aprenda a estabelecer limites. Estabeleça um dia de folga por semana.
Toda a família precisa se envolver no cuidado e nas despesas. É essencial a percepção de que em relação ao idoso, com o passar do tempo, os cuidados aumentam, as despesas e o desgaste de quem cuida também.
O cuidar a noite, nos deixa em um estado de cansaço crônico.
Então faça reuniões com a família, e demonstre de todas as formas possíveis e antes que você tenha um infarto. Pois eles nunca perceberão o seu cansaço. E não tenha medo de elencar todas as suas necessidades enquanto cuidador.
Precisamos ser claros ao dizer o que queremos, o que precisamos. E sempre terá aquele que nunca te compreenderá, por uma questão de escolha pessoal. Talvez você precise judicializar os cuidados.
Claro que quando cuidamos, nos tornamos mais humanizados e percebemos com facilidade a dor do outro. Porém se assim não fosse, jamais seríamos bons cuidadores. Empatia e compaixão é uma construção diária.
E muitas vezes, nem a gente verbalizando tudo isso, somos levados a sério.
Verdade Kelem!!
Kelem, concordo. Mas se não dissermos. Corremos o risco de alguns dizerem “você nunca falou”.
É tão bom apontar soluções? Só que a solução que resolve a minha situação, pode não resolver a sua. Ser cuidador não é tarefa fácil! Boa dica, Cicera, essa de reunir a família e expor, sem medo.
Noscilene, sim. Mas tem situações que devíamos fazer uma Ata. kkkkkk. É um tal de esquecer, ou não lembrar qual a data. ou marcar compromissos inadiáveis na mesma data.
Nunca ligo empatia com compaixão. Empatia usa_se quando colocamos nos nos nossos pés os sapatos da pessoa com quem estamos a conversar
Teresa, realmente é preciso muita coragem para calçar os sapatos do outro.
É quando cuidamos que percebemos o quanto precisamos nos cuidar. Mas o cansaço que por vezes é duro fisicamente fica pior quando nos revoltamos com a situação e nos sentimos injustiçados e abandonados neste caminho. Falo por mim! Grata Cícera pelo seu texto e parabéns pelas normas que decidiu seguir… Cuidar não tem de ser uma escolha na solidão e abandono.
A escrita me traz compreensão sobre o ato de cuidar do outro e me cuidar.