Ao reafirmar que precisamos estar imbuídos em sentimentos nobres como amor, respeito e compaixão, e que também precisamos ser cuidados, caso contrário por melhor que seja as nossas intenções, chega uma hora que não aguentamos mais. Se ficarmos esgotados, nossos cuidados perdem a qualidade. Por mais que a gente ame a pessoa que estamos cuidando.
Parto do princípio que amamos nossos pais e nossos filhos. Mas se a gente não cuidar da gente, vai chegar uma hora em que não conseguimos cuidar deles.
Vivi um dia assim com meu filho em outra cidade. Na fase em que ele ainda tinha muitas quedas. A sorte que tinha ido para Cuiabá com um casal de amigos. Após a consulta fomos para o apartamento da filha deles. Eu mal consegui subir as escadas. Raiana que ajudou Pedro a subir entre uma brincadeira e outra. Depois eles saíram para ir ao shopping e levaram Pedro com eles.
Aquele foi um dia que eu precisava de cuidados, pois já não conseguia cuidar de mim. Ao longo desses anos, por mais de uma vez precisei de cuidados. Pois, com frequência experimentamos a imensa exaustão, causada pelo cansaço físico, mental e o conjunto de dificuldades financeiras que tratamentos de saúde acarretam. E também, por todas as imagens que nos assombram quando pensamos o futuro de nossos filhos. Estou tentando exercitar o viver no presente.
Mas admito que há uma corda invisível que me puxa para o futuro e sem perceber me vejo a sofrer. Digo que ela é invisível porque se pudesse vê-la a cortaria. Pensar o futuro de nossos filhos não é fácil. Sei que já cheguei a escrever que queria que existisse uma instituição para meu filho ficar quando eu morresse, mas na verdade não quero.
Instituições não são nem de longe a melhor opção. Eu acredito que nós mães e/ou pais podemos pensar uma saúde e educação de qualidade, inclusiva e com equidade. Que atenda a nossos filhos e a nós também. Para minimizar nosso cansaço e envelhecermos com qualidade de vida.
Portanto posso afirmar que nos dias atuais o cuidador também precisa ter políticas públicas mais humanizadas. Também é necessário acabar com a ilusão de que o portador do espectro autista vive no mundo dele. Todos estamos inseridos no mesmo mundo.
Na verdade, é necessário pensar práticas que possibilitem a cada autista tornar-se apto para estar e agir nesse mundo com direito a trabalho, cultura e lazer como qualquer outro ser humano.
Quando todos nós, independentemente do cargo que estivermos exercendo, tratarmos qualquer ser humano com respeito e compaixão, estaremos fazendo a diferença. Todas as vezes que ajudamos o outro com compaixão, estamos transformando a vida dessa pessoa e a nossa também. A sensação de gratidão vinda das boas ações alegra e conforta o coração de qualquer pessoa. Quando isso acontece somos capazes de fazer mais do mesmo, com alegria.
E como é difícil fazer mais do mesmo a cada dia. Há dias em que gostaríamos de ter nas mãos o poder de mudar a realidade. Tanto a de quem cuidamos ou ajudamos a cuidar, porque há dias que são muito difíceis, quanto a nossa própria, pois o sentimento de impotência dói muito…
Bom dia. Como aprender cuidar de cada um de nós. Acostumamos cuidar dos outros. As mães que tem um filho que precisa de cuidados ela desdobra e ninguém sabe ou não quer intender. Aprender a cuidar de nós mesmo não é uma dádiva e ter sabedoria