Carta ao Ceo da FIAT

Espero que o senhor esteja bem.

O motivo desta é contar-lhe sobre a compra de um carro na sua empresa.  Após meses indo e vindo da loja de carro, a Secretaria de Saúde e ao Centro Referencial de Saúde a procura de Neuro e por mais de uma vez chegar com papeis preenchidos, sempre com documentos incompletos e voltando a preenchê-los novamente. Houve momentos que o senhor Álvaro representante da empresa foi mais otimista, que eu.

Até que finalmente chegou o grande dia, em janeiro de 2021. Começaram as frustrações. Tinha feito todo o projeto de compra visando um Cronos, por ter um espaço para bagagem grande, que cabe uma cadeira de rodas, já me planejando para o futuro, na verdade bem próximo. Após alguns AVCs e os 94 anos de idade do meu pai. Hoje são 95.

Sem contar minha felicidade e encantamento por um carro que iria ter GPS, isso me libertaria de viver me perdendo em Cuiabá, quando vou levar meu filho ao médico.

Sabe o que aconteceu quando o vendedor abriu a página do computador para eu escolher o carro? O Cronos tinha desaparecido da lista PCD. O desencanto foi imenso e fiquei sem opção. O Argos tinha o kit tecnológico, mas o bagageiro era pequeno. Então optei pelo Grand Siena.

Finalmente o carro chegou. Vim a concessionária buscá-lo e para a minha decepção a chave não era automática. E só posso abrir e fechar a porta pelo lado do motorista. O senhor não faz ideia do que significa isso quando temos filhos com necessidades educacionais especiais e precisamos sair com eles e não temos outra pessoa para ajudar.

Se o senhor e sua equipe soubessem o perigo que representa deixarmos nossos filhos a sós, na calçada e voltarmos para fechar o carro, tenho certeza que vocês não teriam tirado a chave automática.

Eles têm dificuldade de ficar no mesmo lugar, de obedecer a ordem recebida e se virem uma pessoa conhecida do outro lado da rua podem atravessá-la sem olhar para traz. Sem contar o fato de que quase sempre preciso carregar também o meu pai, pois não é sempre que tenho com quem deixa-lo. Cada vez que preciso realizar esta ação sinto me insegura e com medo.

Cheguei até mesmo perguntar o valor de uma chave automática, porém o valor tornou-se inviável para entrar em meu salário, pois continuo pagando as prestações do carro. E com a pandemia meu salário está congelado. Sendo assim, manter o carro está no limite das minhas possibilidades.

Portanto, venho lhe pedir encarecidamente, da próxima vez que venderem um carro para uma mãe que tenha filho especial, mantenham a chave automática.

Cordialmente,

Cícera, mãe de Pedro.

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Flávio
Flávio
2 anos atrás

Texto para muitas reflexões, para quem concebe um projeto, para quem vende, para quem busca economia sem considerar as necessidades, …, para quem está afastado da realidade. Bastava qq um da Fiat acompanhar uma vez só um cuidador em uma consulta médica ou uma simples conversa empática entenderia o que é VALOR❗👏👏👏 Hora da ação e reparação senhores Fiat’s❗❗ Parabéns Cicera Alves Feitosa por ser porta voz de tantos cuidadores 👏👏👏

Maria Madalena
Maria Madalena
2 anos atrás

Maria Madalena

Maria Madalena
Maria Madalena
2 anos atrás

Bom dia Cicera
Entendo a sua dificuldade ou ” falta de facilidades ” oferecidas pela empresa retro mencionada.
Não é preciso ter problema semelhante para ser sensível ao sentimento do outro.
Infelizmente é assim mesmo. Qualquer empresa busca o ” que for interessante” para ela mesma. Nesse sentido, o veículo desaparece do vídeo, está em falta, sinto muito, entre outras desculpas.

Dionila
Dionila
2 anos atrás

Jesus, que a sua força, a sua coragem, a sua persistência contagie muitos, como contagiou a mim Cícero. Vamos entrar nessa campanha. Força guerreira, vitoriosa.

Vera Lucia de Assuncao Rodrigues
Vera Lucia de Assuncao Rodrigues
2 anos atrás

Texto muito instrutivo

Andreia de Assunção Rodrigues
Andreia de Assunção Rodrigues
2 anos atrás

Um alerta importante.
Espero que possa ser ouvido pelas pessoas a quem tem o poder de fazer mudanças

Ruth Lifschits
Ruth Lifschits
2 anos atrás

Ruth Lifschits
Cuidei da minha mãe e tive ajuda de excelentes pessoas. Elas conseguiam permanecer na neutralidade objetiva mesmo ouvindo minha mãe vir com arengas, ordens sem pé e nem cabeça, toda sorte de despropósitos. Eu, cansada, algumas vezes levava a fala de minha mãe para o lado pessoal, o que não é bom nem para o paciente e nem para o cuidador. As cuidadoras acabavam cuidando de mim, também. Só tenho a agradecer a elas.