QUEM CUIDA DO CUIDADOR

O livro “Quem cuida do cuidador” do Dr. Eugênio Paes Campos foi uma das obras que li para dar suporte a minha ideia de que o cuidador precisa ser cuidado. Já tinha decidido criar um blog, até registrado o nome, quando me deparei com este livro. Uma obra intensa que aborda a necessidade de o cuidador ser cuidado, através de um trabalho desenvolvido em um Posto de Saúde. Ele convida profissionais de diferentes áreas: médico, psicólogos, assistes sociais, enfermeiros, nutricionistas e professores de Educação Física. Formando assim um grupo multidisciplinar.

O que todos tinham em comum?

O desejo de cuidar. Mas para isso era necessário vencer a individualidade e os desafios existentes, na área da saúde.

E o grupo passa a atender pacientes com hipertensão. E o suporte teórico principal utilizado por Dr. Eugênio é a teoria de holding desenvolvida por Winnicott “o holding é uma determinada forma de relacionamento mãe-bebê em que prevalecem as trocas afetivas, os cuidados mútuos e a comunicação empática.” (CAMPOS, 2016, p. 77)

E a representação dos papéis: pai, mãe e bebê. O pai é o protetor e provedor, a mãe é a cuidadora e o bebê é cuidado. Nesta abordagem se discute essa relação desde que o bebê nasce e em todas as fazes da vida, até chegar à vida adulta. De forma espetacular ele mostra que os papéis pai, mãe e bebê funcionam como se fossem círculos. Ora cuidamos, ora somos cuidados. Neste livro também ele apresenta a ideia de suporte social.

Quem melhor descreve a dinâmica do suporte social, enquanto relacionamento próximo e acolhedor, é Cobb (1976) ao destacar seus três componentes essenciais: emocional (sentimento de ser amado, cuidado e protegido), valorativo (sentimento de ser reconhecido e aceito) e comunicacional (sentimento de ser compreendido e de compartilhar informações). (CAMPOS, 2016, p. 77)

Ele trabalhou com outros teóricos, mas acredito que o Suporte social e o holding dão a medida exata do quanto precisamos ser cuidados ao sermos cuidadores.

O autor através de seu trabalho com o grupo multidisciplinar da saúde, cuidando dos pacientes, aos poucos cria vínculo de amizade e respeito mútuo pelo trabalho de cada um, dando voz e ouvindo a todos. Com o passar do tempo, apesar da área da saúde ser extremamente competitiva, esses profissionais passaram a entender e cuidar melhor de seus pacientes e a se cuidarem uns dos outros também.

 Conseguiram perceber a teoria de Winnicott na pratica, pois este diz que na relação mãe e bebê a empatia é tão grande, que mesmo no silêncio a mãe sabe o que o bebê precisa. Enquanto grupo percebem quando o colega de trabalho não está bem, mesmo que este não tivesse dito nenhuma palavra. Ou seja, ao mesmo tempo que eles cuidavam dos pacientes, eles também cuidavam uns dos outros.

Não havia mais médico, enfermeiro, hipertenso, nutricionista, paciente. Havia pessoas que se respeitavam, que se ouviam, que se preocupavam umas com as outras e que se apoiavam, que se cuidavam mutuamente, na medida em que “reduzíamos as distâncias” e buscávamos captar sentimentos e carências, muitas vezes identificando-nos uns com os outros. (CAMPOS, 2016, p. 131).

Nessa rede de cuidados mútuos ora eram cuidadores, ora eram cuidados e também tinham aqueles momentos que funcionavam como o suporte e a proteção necessária para o colega realizar o seu trabalho.

Quando pessoas se juntam com um desejo comum, são capazes de vencer os desafios, através dos vínculos de: amizade, empatia e compaixão. Quando isso acontece todos saem transformados.

Portanto, ao sermos cuidadores, precisamos nos cuidarmos e sermos cuidados.

CAMPOS, Eugenio Paes. Quem cuida do cuidador? Uma proposta para os profissionais da saúde, 2ª ed. Teresópolis: Unifeso; São Paulo: Pontocom, 2016.

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Rosemar
Rosemar
3 anos atrás

Parabéns . Todos nos de alguma forma somo cuidadores