Pedro é feliz?

PEDRO É FELIZ?

A primeira vez que respondi essa pergunta foi muito difícil. Parecia errado. Afinal, era eu que estava respondendo e não ele. Uma resposta que, embora eu dissesse sim, faltava-me convicção e certeza. O bicho insegurança parecia me morder. Na dúvida, por várias vezes chorei.

Nossos filhos no mundo habitado por eles, que ora fazemos parte e ora não fazemos, são felizes? Mundos há que juntos com eles construímos cada tijolo, assentamos e alisamos a argamassa. Para ter certeza que não deixamos arestas para machucá-los. Isso acontece quando as pessoas que estão por perto deles, muitas vezes escolhidas por eles, nós também aprovamos, ou já faziam parte do nosso ciclo de convivência.

Há tempos sei que meu filho Pedro Henrique é feliz. Mas este ano, em seu aniversário de 19 anos no dia 20/02/2022, sua felicidade alcançou picos elevados.

Organizamos um almoço. Quando os últimos convidados ainda estavam terminando de almoçar, ele já estava pronto para os parabéns e para cortar o bolo. Às 14:00 horas ligou para duas amigas que não puderam vir e comunicou: Agora vocês não precisam vir mais porque daqui a pouco vou para a missa.

Ao chegar na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro do Junco – Cáceres -MT, anunciou aos presentes que era seu aniversário. Uma das organizadoras sugeriu que eu incluísse seu nome na intenção da Santa Missa como aniversariante.

Quando ele ouviu o nome dele, um sorriso espalhou por seu rosto. Após a comunhão e avisos, convidaram-no para ir à frente do altar. Cantaram os parabéns. O cântico Derrama ó Senhor… e ao término da benção final, cantou-se o hino de Nossa Senhora do Carmo a pedido dele. Também deixaram um microfone a sua disposição. E precisei reconhecer que ele pode cantar na igreja. A voz dele é forte e agradável. Não poderia reclamar da forma acolhedora com que esta comunidade sempre o recebe.

Enfim, seu aniversário foi preenchido pelas coisas que ele gosta.

Entretanto, uma semana antes começou sua ansiedade, nem ele dormia direito, nem a gente. Como seu humor pode alterar, quando o dia terminou estava exausta e feliz.

Pronta para nunca mais ter dúvidas, ao responder à pergunta de um, a princípio orientador. Com o passar do tempo, um querido e amado amigo.

─ Cícera, Pedro é feliz? ─ Perguntava James, em 2018,

Eu respondia totalmente na dúvida e insegura.

─ S i m…

A resposta hoje é:

─ SIM, James!  Pedro é feliz.

Aliás, muito, muito, muito, feliz.

 Em 2018 eu tinha medo, dele não ser feliz. A compreensão da felicidade de Pedro Henrique só fez sentido quando entendi e aprendi a aceitar que ele é feliz, em seu mundo. Minha epifania aconteceu ao compreender que: Quem sofre? Sou eu.  Quem precisa se adaptar? Sou eu. Quem precisa aceitar? Sou eu. Quem quer o impossível?  Também sou eu.

Vejam bem, esse compreender e aceitar não significa acomodar, ou cruzar os braços. Tenho lutado por melhores condições de vida para ele e todas as outras pessoas que como ele precisam de tratamentos especializados e serem incluídas, como nunca tinha feito antes. Ações humanas de algumas pessoas, ainda doem em mim. Mas nestes 19 anos, tenho ressignificado a dor, o desrespeito com o diferente e o descaso social em energia de ação. Para que as pessoas e os órgãos públicos ofereçam um atendimento de qualidade, com equidade, compaixão e humanizado.