LIVRO: “A MORTE É UM DIA QUE VALE A PENA VIVER”

No livro, “(A morte é um dia que vale a pena viver” da autora Drª. Ana Claudia Quintana Arantes – geriatra – especialista em cuidados paliativos e muita experiência em cuidar de pacientes em estado terminal. Ela relata a experiência de trabalho dela, do sofrimento constante por sua empatia com a dor do outro. Sem saber dizer não e ficando doente. “Chorava de raiva, de frustração, de compaixão.” (ARANTES, 2019, p. 16).  Da sua própria dor, por não ter aprendido a cuidar de si mesmo primeiro. Até o dia que ela, assistindo uma peça de teatro, teve uma epifania e percebeu que para cuidar do outro, primeiro ela precisava aprender a cuidar de si mesmo.

E a partir desse ponto, o livro torna-se uma raridade pois ela faz uma reflexão que para sermos cuidadores, precisamos nos cuidar e sermos cuidados também. “minha vida ficou plena de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si.”. (ARANTES, 2019, p. 19). Ela relata que muitas vezes se sente cuidada por seus próprios pacientes.

Para a médica a medicina é fácil, mas o mundo psicológico é complexo, “observando um ser humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica sua paz. Ou quanta culpa corre em suas veias, junto com seu colesterol. Ou quanto medo há em seus pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de solidão e abandono.” (ARANTES, 2019, p. 28)

Ana Claudia também fala da importância da empatia que nos permite se colocar no lugar do outro e sentir sua dor e sofrimento, mas ressalta que a compaixão é mais importante, pois possibilita compreendermos a dor do outro e a transformá-la. “Todos nós precisamos de pessoas capazes de entender nossa dor e de nos ajudar a transformar nosso sofrimento em algo sentido.” (ARANTES, 2019, p. 37)

Outra observação primorosa dela é “(…) Morreremos antes da morte quando nos abandonarmos (…)” (ARANTES, 2019, p. 39)

Nessa conversa de cuidados, compaixão, medo da morte, tempo e como ajudar alguém a morrer, com respeito por esse momento que pode ser transformador. Principalmente se tivermos um olhar humanizado. “vamos nos distanciando do “ser” pelo caminho do “fazer” (…) A ideia de “ser’ humano é simplesmente existir e fazer diferença no lugar onde estamos, por ser quem somos.” (ARANTES, 2019, p. 53)

Ela também aborda as dimensões do sofrimento: físico, emocional, social e espiritual. Fala da morte na perspectiva oriental – que descreve a morte como a dissolução dos quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar. Quanto a contemplação da morte ela diz: “A única coisa da existência humana que não tem opção é a morte”. (ARANTES, 2019, p.65) “Não é o caso de fugir. É nesse espaço de tempo que conheceremos caminhos totalmente inéditos dentro de nós mesmos para chegar a um lugar incrível: a vida.” (ARANTES, 2019, p. 70)

Todos vamos chegar ao fim, a forma como vamos trilhar esse caminho pode variar muito de pessoa para pessoa, pois aqui entra a dimensão espiritual, “o que faz girar esse eixo de espiritualidade dentro de nós é o Amor e a Verdade que vivemos com integridade.”  os arrependimentos em relação a escolhas pessoais, os sentimentos, trabalho, amigos e ser feliz.

 Para ser feliz, deve se evitar os arrependimentos, e ela cita o autor Don Miguel Ruiz que enumera quatro arrependimentos.

PrimeiroSer impecável com o uso da palavra, pois ela tem o poder de transformar e também de destruir;

Segundo: Não tire conclusões precipitadas;

Terceiro: Não leve nada para o lado pessoal;

Quarto: Faça o seu melhor.

Talvez esses preceitos possam tornar a nossa caminhada mais leve. A autora também fala das nossas mortes de cada dia e de como saber perder. “mas superar a perda é muito mais fácil do ficar no ar irrespirável da putrefação afetiva.” (ARANTES, 2019, p. 103)

… “tivemos em 2018, a aprovação e publicação no Diário oficial da União das Políticas Públicas de Cuidados Paliativos no Brasil. Dessa forma o Estado afirma que os Cuidados Paliativos são uma necessidade da sociedade, um direito, não mais restrito.” (ARANTES, 2019, p.124)

À luz da abordagem feita pela doutora Ana Claudia sobre morte, cuidados paliativos, a valorização da vida, a importância de o cuidador ser cuidado. Porque os doentes, idosos e cuidadores ainda encontram tanta dificuldade em serem assistidos em suas necessidades básicas?

ARANTES, Ana Claudia Quintana, A morte é um dia que vale a pena viver, Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

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Fernanda das Neves
3 anos atrás

Um livro a ler definitivamente… os seus comentários realçam o conteúdo tornando-o imprescidivel…Parabens